O futebol chinês tem nome bonito: Chinese
Super League (CSL), mas pelo que assisti ontem, ao vivo, está mais para
“pelada” do que outra coisa.
Logo da Chinese Super League
Beijing Guoan e Guangzhou Evergrande se enfrentaram no Estádio
dos Trabalhadores, aqui em Beijing, pela terceira rodada do campeonato
2013.
O confronto é considerado um clássico. O Guangzhou é o atual campeão
nacional.
O Guoan é o time da capital e
o Guangzhou o time da cidade de
mesmo nome, localizada no sul da China, e mais conhecida pelos ocidentais como Cantão.
Nos últimos anos o futebol chinês pegou os bons ventos que sopram a
favor da China e os clubes passaram a investir pesado no esporte. Assim como os
árabes, os chineses começaram a gastar milhões para trazer para o país
jogadores que pudessem dar um algo mais ao futebol nacional. Técnicos de renome
também foram contratados. O Guangzhou,
por exemplo, é comandado pelo italiano Marcello Lippi, técnico campeão do
mundo com a Itália, na Copa de 2006, na Alemanha.
Essa semana quem esteve visitando o país foi o inglês-craque-bonitão de
37 anos, David Beckham, que é Embaixador
da Superliga Chinesa de Futebol e do Programa que promove o Futebol Juvenil na
China. Beckham, que atualmente joga no Paris Saint-Germain, na França, não descartou a possibilidade de
num futuro próximo vir jogar por algum clube chinês.
De acordo com informações obtidas no site oficial da CSL, há 78 jogadores estrangeiros
espalhados pelas 16 equipes que disputam o campeonato deste ano. Desses setenta
e oito, vinte e dois são brasileiros.
A partida de ontem entre Guoan
e Guangzhou estava marcada para as
sete e meia da noite. Apesar do Estádio dos Trabalhadores ficar a cerca de dois
quilômetros aqui de casa, saímos cedo, por volta de seis horas.
Antes de entrarmos no estádio, compramos algumas echarpes do Guoan, para incrementar o visual.
Amanda com o casaco do Guoan e eu e a Gigi com a echarpe.
Eu estava com a camisa do Brasil.
Como sempre todos são obrigados a passar por detectores de metais e têm
suas mochilas e bolsas revistadas. Mas não há fila, apesar do grande número de
torcedores, e é tudo muito organizado.
O ponto de revista fica embaixo dessa tenda.
Do lado de fora do estádio resolvi abrir o bandeirão do Brasil que levei
comigo, para tirar algumas fotos. Logo dois seguranças chineses chegaram perto
da gente e, com cara de espantados, ficaram mirando a bandeira do Brasil e do
Fluminense, que minha amiga levou. Um dos guardas, uma mulher, ficou olhando o
escudo do Fluminense, acho que tentando entender o que significam as letras FFC bem no meio do escudo. Acho que
ficaram com medo de que estivesse escrito alguma coisa imprópria e pediram que
guardássemos as bandeiras. Coisa de chinês!
Cris e eu com a bandeira do Brasiiiillllll!!!
Nisso chegou pra perto da gente uma jovem que começou a me perguntar, em
inglês, porque estávamos ali para assistir um jogo de futebol do campeonato
chinês. Logo ela me perguntou se eu me importava em dar uma entrevista para a
CCTV, a tv estatal da China. Aceitei numa boa e respondi às
perguntas, entre elas para quem eu torceria. Falei que como morava em Beijing
há um ano, torceria para Guoan, o
time da cidade.
Nós éramos sete pessoas – eu e as meninas (Tuninho está viajando) – mais
a Cris, o Fernando, a Mel e a Fê. Apesar de estarmos com alguns “aparatos” do Guoan, o grupo estava meio dividido, já
que a família Nunes, tricolor, estava com uma quedinha para torcer pelo Guangzhou, time do argentino Conca,
que virou ídolo dos tricolores.
Ficamos na parte inferior das arquibancadas, bem próximos ao gramado. Só
que passamos os 90 minutos do jogo em pé, porque os torcedores chineses ficaram
o tempo todo levantados. Só sentaram no intervalo. Coisa de louco! E, pra
piorar, algumas vezes eles sobem nas cadeiras, o que complica a visão da gente,
o que nos obrigou a subir também, ou não veríamos nada. Além disso estava muito
frio. Resultado: hoje estou quase que “aleijada” da coluna. A idade é um
problema!
Torcendo pelo Beijing Guoan.
As meninas aguardando o início da partida.
No segundo tempo elas não aguentaram o frio e se cobriram com
a bandeira do Brasil.
Os chineses praticamente não levam bandeiras para o estádio. Eles têm
mais o estilo europeu, com suas echarpes servindo de banner.
Acho que havia umas três torcidas organizadas do Guoan e deu pra ouvir o som de alguns “batuques” e o barulho de
pequenas cornetas – as vuvuzelas
fizeram história.
Poucas bandeiras na torcida.
Aquecimento do time do Guoan...
...e do time do Guangzhou.
Jogadores perfilados na hora da execução do Hino Nacional da China.
Assim como no Brasil, a torcida não se contém e muitas vezes solta
palavras não muito apropriadas para os jogadores adversários, para o árbitro...
Ontem o que mais ouvi foi “sha bi”, algo como “fdp” no Brasil. Houve momentos em que
quase todo o estádio – exceto a pequena torcida do Guangzhou – gritou em uníssono “sha bi... sha bi”! É claro que fomos no embalo e ajudamos a
engrossar o coro! Faz parte.
Pra descontrair e esquentar um pouquinho, eu e a Cris cantamos algumas musiquinhas
tradicionais do futebol brasileiro e, principalmente, carioca: “Domingo... eu
vou ao Maracanã...” e outras não tão bonitinhas que não vou reproduzir aqui!
Essa é uma das vantagens de praticamente ninguém entender o que estamos
falando.
O jogo, como disse lá em cima, foi bem fraquinho. Parecia até partida de
totó: chutão pra lá, chutão pra cá. Ou então os caras insistem em carregar a
bola até não dar mais. Ninguém arrisca chute de longe.
Falta a favor do Beijing Guoan.
Do lado do Guoan o
melhorzinho em campo foi Kanouté,
jogador de Mali. O brasileiro André Lima
teve uma atuação apagada.
Do lado do Guangzhou
esperávamos uma boa atuação do argentino Dario Conca, mas ele apareceu mais por reclamar toda hora – bem ao estilo
latino – do que por atuar bem. O brasileiro Muriqui também nada acrescentou. Melhorzinho foi outro brasileiro, Élkesson, autor do gol de empate do Guangzhou.
Dario Conca, de camisa vermelha, mais ao centro, decepcionou.
Em alguns momentos a partida foi realmente bizarra: furadas, bicicleta mal executada, quase gol contra... um horror. Teve gol
perdido que até eu fazia!! As entradas duras também foram uma constante. Teve
até confusão, com empurra-empurra que acabou com um jogador do Guangzhou expulso.
O empate em um a um foi até demais. Mas pelo menos pudemos
pular na hora do gol do Guoan, como
se fossemos torcedores de carteirinha. Afinal, bagunça é com a gente mesmo!
Placar final: Beijing 1 x 1 Guangzhou.
O time de Dario Conca lidera o campeonato, enquanto
o Guoan está em segundo.
Os jogadores se cumprimentam no centro do gramado.
É claro que eu não esqueci de levar a bandeira do Vasco!
Amanda e Gigi na saída do estádio.
O Estádio dos Trabalhadores (Gōngrén Tǐyùcháng, 工人体育场) foi construído em 1959 e reformado em 2004.
Nos Jogos Olímpicos de 2008 recebeu os jogos das quartas-de-final e das
semifinais do futebol masculino e foi o palco da final feminina. Tem capacidade
para pouco mais de 66 mil pessoas. Na partida de ontem o estádio não estava lotado, mas o
público foi muito bom, cerca de metade de sua capacidade.