domingo, 30 de setembro de 2012

Feriadão na China


É feriado aqui na China. Feriadão. Durante toda essa semana os chineses celebram o Festival de Meio-Outono - 中秋 Zhōngqiū Jié - também chamado de Festival da Lua ou Festival do Bolo de Lua. Esse feriado quase sempre coincide com o feriado nacional do 1° de outubro, data em que os chineses comemoram a fundação da República Popular da China. Foi em 1° de outubro de 1949 que Mao Tse-Tung proclamou a RPC.

O Festival de Meio-Outono chinês, como bem diz o nome, acontece no meio da estação e simboliza a colheita e as reuniões familiares. Ele acontece no 15° dia do oitavo mês do calendário chinês. Esse feriado não tem data fixa, mas o dia sempre ocorre durante a primeira lua cheia desse mês. Só para lembrar, nós, ocidentais, nos baseamos no calendário gregoriano. Desde os tempos antigos, a Lua tem um significado rico para o povo chinês, cujo calendário, as estações de plantio e a vida foram associados à Lua.

Comer alimentos que se assemelham à lua é popular por aqui durante esses dias, principalmente os chamados “mooncakes” - Yuè bǐng, bolinhos de lua – que têm seu formato redondo. Esses bolinhos vêm embalados em caixas decoradas, uma mais bonita do que a outra. E não custam barato. É comum os chineses trocarem bolinhos entre si. Nós ganhamos uma caixa das nossas amigas Gao e Sunny.

Caixa com Bolinhos de Lua;

Os famosos Bolinhos de Lua.

Existe uma lenda chinesa que conta a história do herói Hou Yi, arqueiro que derrotou os noves sóis. Dez sóis estavam derretendo a Terra e Hou Yi abateu nove deles, salvando o planeta da destruição. Ele teria se recusado a voltar ao Céu, depois de se casar com uma jovem mortal, chamada Cháng É. Como castigo, o Imperador Celestial ordenou que Hou Yi fosse preso. Desgostosa, Cháng É tomou um elixir da vida eterna que lhe deu asas e que a levou para a lua. Lá, Chang É encontrou o coelho, Tu’er Ye, que havia sido punido pelo Imperador Celestial, por ter roubado uma erva divina. A triste história de Hou Yi e Chang É, pelo visto, mexe com a compaixão dos chineses há muitas e muitas gerações.  Chang É se tornou uma Deusa/Fada para as pessoas, que passaram a reverenciá-la com incensos, lanternas acesas e bolinhos.

Deusa da Lua, Chang É.

Sobre Tu’er Ye, diz a lenda que ele tem o corpo humano, mas a boca e as orelhas de um coelho. 

Coelho Tu'er Ye.


Por conta de toda essa festa, Beijing está ornamentada com lanternas vermelhas, e com os canteiros repletos de flores de todas as cores. Realmente bonito de se ver.



 Canteiro enfeitando uma das entradas de nosso condomínio.




Lanternas como essa estão por toda a parte.


Há também diversas bandeiras espalhadas pela cidade, por conta do dia 1° de outubro, o Dia Nacional da China. É uma pena que esse ano, por causa da troca de comando no governo chinês, não haverá o desfile militar na Praça da Paz Celestial, na famosa Jian guo men. Queria muito ver a harmonia dos soldados chineses, marchando todos certinhos, naquele estilo bem “soldadinho de chumbo”. Sempre um espetáculo. Fica para o próximo ano.

Há cerca de um mês a segurança em Beijing foi reforçada, por conta da conferência que será realizada em meados de outubro, com a participação de 2.270 delegados de todo o país. Inclusive a internet anda mais lenta por causa disso. Pra piorar, ainda tem a questão da disputa das ilhas Diayou Yu/Senkaku, entre chineses e japoneses, que tem dado o que falar por aqui e algumas confusões.

Mas, voltando a falar de mudança de governo, ao que tudo indica, Xi Jinping e Li Keqiang serão os sucessores de Hu Jintao e Wen Jiabao, respectivamente presidente e primeiro-ministro há 12 anos. A troca acontece em março de 2013, durante o Congresso Nacional do Povo.

Por causa de tanta celebração, a vida só volta ao normal, aqui na China, no dia 08 de outubro. Até lá, viva o feriadão!


Gigi aproveitando o feriadão.

Passeando pelo condomínio e curtindo a natureza.


Chinês é assim: país grande, população grande e, quando tem feriado, é feriado grande! O chinês tem mania de grandeza. Você vai num lugar e tem sempre alguém dizendo que isso ou aquilo é o maior do mundo... é, mas dizem as más línguas que tem coisa que os chineses não tem tão grande assim...bom, quanto a isso, é melhor deixar pra lá... folclore ou não, fica no ar a dúvida.




segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Gigi na escola

Finalmente chegou o dia da Giovanna começar a estudar numa escola chinesa: a Fang Cao Di. Não a colocamos pra estudar logo que chegamos, porque ela entraria no meio do ano letivo. Aqui as aulas começam em setembro e terminam em junho. Então, por indicação da própria escola, esperamos até agora. Mas durante dois meses ela teve aula particular em casa, pra não entrar “boiando”.

Fachada da escola.

Dia 03 de setembro. O esperado aconteceu. A “manteiga” chorou, mas acabou entrando na escola. Nos primeiros dias, a mesma ladainha. É assim desde pequena. Com oito anos já é hora disso acabar!

Primeiro dia da Gigi na escolinha chinesa.
Entrando com a Li Laoshi (professora Li).

Aqui eles dão muita ênfase à matemática, o que vai ser bom para ajudar nos estudos do Anglo Americano, que ela faz a distância.

Além disso, ela tem aula de música, arte e, é claro, chinês. Logo vai estar falando e escrevendo esses ideogramas complicados daqui. Essa turma jovem aprende rápido.

Nas aulas de educação física as crianças correm, jogam bola, pulam corda, aprendem a marchar. Aqui, quase tudo é “militarizado”. Nos restaurantes os funcionários são reunidos antes do expediente, numa espécie de Ordem Unida, quando recebem as ordens do dia. Nos condomínios é a mesma coisa.

Hora da massagem antes do expediente.

Funcionários de um restaurante recebendo as orientações do dia.

Soldados do Exército do Povo que fazem a segurança das Embaixadas.


Na abertura do ano letivo, que aconteceu no dia 1° de setembro, as crianças cantaram, além do hino da escola, o hino chinês durante o hasteamento da bandeira, numa cerimônia que contou com a participação de soldados do Exército do Povo, uma polícia que está em todos os lugares por aqui: como na segurança das embaixadas, por exemplo. Os pais não puderam entrar na escola: ficamos só do lado de fora, observando.

Gigi no meio da garotada e das professoras,
no dia de abertura do ano letivo.

Olha ela ali no meio.

As crianças ficaram formadas no campo de futebol de grama sintética.
Ao redor do campo tem uma pista de atletismo.

Dando "tchauzinho" pra gente.

Saindo do campo. Hora de ir embora.

Na abertura do ano letivo, com a bandeira do Brasil.


Depois de três semanas, a Gigi não chora mais, entra direto e está se divertindo. Já fez até passeio com a escola: foram brincar no Parque Olímpico. Pelo que ela me contou, brincaram de “profissões”. Tirou leite da vaca – a vaca era um boneco que saía água – fez algodão doce e foi maquinista de trem. Bem legal. Ganhou até uma carteira de trabalho e dinheirinho de mentira. Veio toda contente.

Gigi entra às 7:30 é só sai às 15h. De manhã come um lanchinho – geralmente bolinho e iogurte – que eles dão. E, na hora do almoço, está comendo apenas a sopinha. Os outros pratos ela ainda não quis experimentar. Tudo muito chinês. Mas ela leva sempre sanduíche, leitinho, suco e fruta. Só que quando chega em casa está morrendo de fome. Faz um lanche e antes das 19h já quer jantar. Então bate um bom prato de comida.

A Fang Cao Di é uma escola pública que foi fundada em 1956 para atender aos filhos dos funcionários do Ministério das Relações Exteriores da China. Somente a partir de 1973, com o apoio do então primeiro-ministro chinês Zhou Enlai, passou a ser também uma escola internacional, ou seja: abriu seu quadro para alunos de outras nacionalidades. Nos últimos 50 anos a Fang Cao Di Elementary School tem sido reconhecida mundialmente por sua alta capacidade educacional.

Existem outras escolas internacionais por aqui, como a Paquistanesa, Canadense, Britânica e Australiana entre muitas outras.

Além dos coleguinhas chineses, a Gigi tem amiguinhos da França, da Coréia do Sul, de Hong Kong, da Bolívia, entre outros, e tem também uma amiguinha brasileira: uma menina de família chinesa, que nasceu no Brasil, e agora veio pra cá, pra ficar com os avós. É a grande amiguinha dela na escola.

Outra coisa boa é que a escola é bem pertinho aqui de casa. Vamos caminhando e chegamos lá em menos de 10 minutos.

Enquanto a Gigi está dando os “primeiros passos” no Mandarim, a Amanda já está craque na língua chinesa. Começou o segundo período do curso na faculdade. No primeiro período foi uma das duas melhores alunas e ganhou uma bolsa de 50% de desconto! Orgulho da Mamãe!

As aulas na faculdade são puxadas: ela já escreve textos com mais de 300 ideogramas e fala e compreende bem os chineses no dia a dia. No primeiro semestre a turma dela era formada por russos, em sua maioria, um francês, uma menina da Mongólia e outra da Armênia. Agora, as japonesas estão em maior número. Tem também aluno do Equador e um russo apenas.

Minhas filhas estão tendo uma oportunidade de ouro: aprender a língua do futuro, ou seria a língua do momento? Com mais de um bilhão de chineses vivendo aqui na China – fora os que estão espalhados por aí - e com o número crescente de pessoas aprendendo Mandarim em todo o mundo, logo a língua chinesa será a mais falada do planeta. Ou já não será a mais falada?







domingo, 23 de setembro de 2012

Templo do Céu



O Templo do Céu é uma das visitas obrigatórias em Beijing. Lugar belíssimo e que tem um grande simbolismo na cultura chinesa.

Lugar lindo.

O Imperador usava o local para fazer sacrifícios, rezar e pedir proteção aos antepassados. É estranho usar as palavras “rezar e/ou orar” quando se fala dos chineses. Como já citei diversas vezes, eles não acreditam em religiões, mas em filosofias de vida. No entanto, os chineses acreditavam que, como filho do Céu, o Imperador era capaz de pedir aos deuses uma boa colheita, por exemplo.

O Templo do Céu está sempre cheio. As pessoas usam o local para praticar Tai Chi Chuan, dançar, jogar peteca, cartas... o local é muito frequentado por idosos, que são maioria.

Chineses e estrangeiros praticando Tai Chi.

Mulher jogando um tipo de Tai Chi de raquete.

 
Eu também tentei jogar. Os movimentos, suaves, são os mesmos do Tai Chi.
Difícil é controlar a bolinha na raquete.


Alguns idosos preferem jogar cartas. 


A principal construção do local é o Hall das Preces por Boas Colheitas, que alguns também chamam de Altar do Céu. O Imperador usava esse templo para orar pela colheita.

Hall das Preces por Boas Colheitas.


As cores predominantes no templo são o azul e o vermelho. No telhado circular o azul simboliza o céu. O vermelho é uma das cores imperiais.

Casalzinho no Templo do Céu.

Panorâmica do local.


Vinte e oito pilares sustentam o telhado e as quatro colunas principais são chamadas de Pilares do Poço do Dragão e representam as quatro estações do ano. Outras 24 menores simbolizam os meses do ano.
Vale lembrar que o dragão, na China, está relacionado ao Imperador, e a Fênix, à Imperatriz.

Interior do Templo.

Detalhe do telhado.


Um dos locais disputados para fotos é o Altar Redondo, onde o imperador fazia os sacrifícios.

Entrada do Altar Redondo. Formado por anéis concêntricos de placas de pedra em 
múltiplos de 9, o número do Imperador.

Luciana bem no círculo central do Altar Redondo.


Como o local é enorme, visitamos apenas os pontos principais. Vamos ter que retornar para conhecer o que faltou.

Hall das Preces ao fundo.


Junípero chinês de mais de 500 anos, chamado de Junípero dos Nove Dragões.


Vista do alto do Altar Redondo.



Cloisonné


Você já ouviu falar de cloisonné? Então, vamos lá: é uma técnica artística que nasceu no ocidente – cloison, em francês quer dizer divisão - mas que foi aperfeiçoada pelos chineses, lá pelos idos do século XV, na dinastia Ming - não é de agora, então, que os chineses “copiam” as coisas. E, como conseguem fazer de tudo um pouco, os chineses conseguiram transformar o cloisonné chinês numa referência de alto padrão, beleza e qualidade: o melhor cloisonné do mundo!

Mas o que é exatamente o cloisonné? É uma técnica decorativa onde tiras finas de metal são aplicadas sobre uma superfície de cobre ou bronze, formando desenhos, que são preenchidos com esmalte colorido, vitrificado.

Visitei uma fábrica e pude ver as etapas de confecção do cloisonné. As peças de cobre são delicadamente decoradas pelos artesãos. 

As artesãs colam os pedacinhos de metal, uma a uma, para formar os desenhos.

É um processo bem artesanal.

Daí passam para o processo de pintura. Algumas peças são polidas e outras não, ficando com os detalhes em alto relevo. 

Artesã na etapa de pintura da peça.

No processo final, o cloisonné passa pelo forno, numa temperatura altíssima.

O forno que nos foi mostrado era bem arcaico. Com as peças enormes, com certeza,
é de um outro tipo. Imagina segurar um vaso enorme num forno desses?


Após o “making of” do cloisonné, fomos levados para a loja: hora de gastar dinheiro! Mas não foi dessa vez que comprei uma peça pra mim. Fiquei só pesquisando os preços, afinal, como é ponto turístico, devo voltar outras vezes com os amigos e familiares que vierem nos visitar.

A loja é encantadora. Tem peça de cloisonné de todo tipo, tamanho e cores. Do barato ao caríssimo. Do feio ao bonito, já que gosto não se discute, cada um tem o seu.

É até difícil escolher alguma coisa, tamanha a variedade de produtos.

Um show de cores...

...e de peças de todos os tamanhos.

Desde potinhos a pratos e vasos. Tem de tudo.


Peças lindíssimas.


Um desenho mais bonito do que o outro.

Os preços também variam muito.

Olha o tamanho desse vaso! O preço? 2.360.000 RMB!!
Aproximadamente R$760 mil.
Baratinho!!!!! Vou comprar uns dois iguais pra levar para o Brasil! 
Kkkkk!!!!!!

Os preços nessa fábrica são um pouco salgados. Ponto turístico é assim mesmo. Um vaso de 20 cm de altura estava custando cerca de 380RMB. Nos mercados aqui de Beijing é possível comprar por metade disso. O problema é que tem que olhar bastante, pra não levar "gato por lebre". Lembre-se: estamos na China!

Não foi desta vez, mas antes de ir embora, vou comprar alguma coisa de cloisonné, afinal, é uma arte chinesa que vale a pena ter em casa.



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Felicidades, Mãe!

Acredito que quando a gente nasce nosso destino já está traçado e que cada um de nós tem uma missão a cumprir por aqui. E acredito, também, que Deus escolhe aqueles mais fortes para as tarefas mais difíceis. Fortes em determinação, fé, e não fortes em força física. São aqueles que “carregam o piano” da vida, que se sacrificam em prol de outros, que se doam e que não se cansam ou, quando se cansam, sacodem a poeira e seguem em frente, arrumando forças sei lá de onde. Pois conheço alguém assim: minha Mãe! Hoje ela completa 72 anos – não tem problema falar a idade dela, porque ela não tem dessas frescuras. São 72 anos bem vividos, de muitos sacrifícios e de uma vida dedicada a estar sempre pronta para ser a primeira a esticar a mão para ajudar quem for preciso.

Nesses anos todos, ela criou dois filhos – eu e meu irmão – perdeu o pai cedo, cuidou da mãe, da sogra, do sogro e agora cuida do meu pai, num casamento de 50 anos.

Ela me educou e me mostrou o caminho a seguir; abdicou de coisas e de momentos em prol da família. Quando minhas filhas nasceram, lá estava ela, de braços abertos, de dia ou de madrugada, pronta pra ajudar. Não esqueço dela sempre dizendo: “dorme um pouquinho, que eu olho a Amanda”...”descansa um pouco que eu cuido da Gigi”. E quando ficava com as meninas para que eu pudesse trabalhar? Lá estava ela, sempre!

É claro que já discutimos, “brigamos”, ficamos dias de cara feia uma com a outra. Mas sempre acabamos nos entendendo.

Mãe, há 72 anos Deus falou o seguinte: “O mundo está precisando de pessoas fortes e determinadas. Que tenham força e fé, e que não desistam diante das dificuldades”. Dito isso, mandou ao mundo inúmeras pessoas e, entre elas, estava Você!

Mãe, hoje estou tão longe e não posso te abraçar e te beijar, mas mesmo aqui, do outro lado do mundo, posso dizer com letras bem grandes “TE AMO MUITO! E como sinto a sua falta perto de mim!”

Você é um exemplo e se eu for para as minhas filhas apenas um por cento do que você representa pra mim, já serei uma mãe realizada!

Felicidades, hoje e sempre!

                                              Mamãe, Papai e os netinhos.