Há exatamente um ano chegávamos à Beijing! Lembro o
quanto ficamos “assustados” com o frio de -13° no dia da chegada. Nunca
havíamos sentido nada igual. Hoje, um ano depois, a temperatura também anda
muito baixa e, apesar de quase congelarmos lá fora, já não nos surpreendemos
com tanto frio. Aqui dentro de casa é bem melhor, é claro, e não é preciso usar
várias camadas de roupa como quando vamos pra rua.
Como já falei outras vezes, me surpreendi com muita
coisa aqui na China. O país evoluiu a cada dia, na busca pelo título de
economia número um do mundo, mas a desigualdade social ainda é bem grande. A
maior parte da população é de baixa renda, mas também vem crescendo o número de
novos ricos no país. Aqui em Beijing espanta a quantidade de carrões que circulam
pelas ruas. E, a maioria é dirigida por gente jovem. Será a cara da nova China?
Acredito que ainda não! O poder está na mão de poucos e poucos ainda se
beneficiam dos tempos modernos. Até aqui parece que os chineses são um povo
conformado e que preferem não reclamar das dificuldades, já que tem casa,
comida e emprego. Não há reclamações nas ruas – também se houvesse sofreriam
retaliações – e o que leio é que nas redes sociais chinesas, alguns já reivindicam
mudanças.
O governo está mudando agora em março – apesar da
transição já ter começado em outubro – e alguns críticos apontam para um
presidente mais liberal – já se fala em internet mais livre - mas também porque
o crescimento da China deu uma desacelerada no último ano e isso está
preocupando os líderes chineses.
Mas não estou aqui para falar de política. Estou aqui para aproveitar a oportunidade de conhecer
uma cultura diferente. E tenho aproveitado bem, dentro do possível. O frio,
agora, impede um pouco as minhas “expedições” pela cidade. Mas logo estarei
novamente com minha mochila nas costas, máquina fotográfica pronta e muita
disposição para conhecer a China e outros lugares aqui do Oriente.
Uma de minhas satisfações e ver minhas filhas falando
chinês. A Amanda já fala e escreve bem o Mandarim. E a Gigi, apesar de mais
tímida, também já consegue se virar com algumas frases e também escreve os
ideogramas com a maior facilidade. Muito legal!
Ainda temos um ano e oito meses pela frente e é
estranho viver um paradoxo, uma contradição: ao mesmo tempo que curto nossa
passagem por aqui, fico pensando na hora de voltar... É a danada da saudade que
bate forte dentro da gente! Mas o blog tá aqui pra isso: pra dividir,
principalmente com quem está longe, a minha “aventura” aqui do outro lado do
mundo. E vamos em frente, que ainda tem muita coisa pra contar!
Observações desse 1° ano:
Não acredite que vai encontrar aqui na China tudo que
você vê aí no Brasil, nos Estados Unidos ou onde quer que seja que tenha uma
etiqueta “Made in China”. A coisa pode ser feita aqui, mas nem sempre está a
disposição no mercado interno chinês. Isso é a mais pura verdade.
Estivemos agora por 10 dias nos Estados Unidos e me
fartei de ver produtos fabricados na China que nem sonho em encontrar por aqui.
A variedade nas prateleiras norte-americanas é de fazer inveja – no bom sentido
- a qualquer um! Aqui não tem muita opção. E o problema é, por exemplo, como
usar uma máquina de lavar se as instruções do painel estão todas em chinês? Por
sorte dá pra achar alguns manuais na internet, dependendo do modelo do produto.
O que se torna chato aqui, com o tempo, é ter que
pechinchar os preços nos principais mercados turísticos da cidade. É sempre a
mesma história: o preço começa lá na casa das centenas, bem alto, e acaba lá
pelas dezenas, bem baixo. Mas até “bater o martelo” é uma negociação que já
está me deixando sem paciência. É tão bom entrar num lugar, ver o preço na
etiqueta e decidir: compro ou não, tá caro ou barato... Nada de discussões...
Quer comprar, compra. Não quer, vai embora.
Mas os preços daqui no geral são bons? Sim, comparando
com o Brasil são muito baratos! É preciso só ficar de olho na qualidade.
Afinal, quase tudo por aqui é “fake”.
É complicado entrar numa farmácia e não ter a mínima
ideia do nome do medicamente que quer comprar. Tá tudo em ideograma! Em algumas
farmácias mais “ocidentais” ainda é possível encontrar algo em inglês, mas na
maioria é um sufoco! O jeito é apelar sempre para a ajuda da intérprete! Santa
criatura!
Andar de táxi, ou melhor, esperar que um táxi pare é
uma aula de paciência. Pode levar 5, 10, 40 minutos... Vai depender da sua
capacidade de esperar ou desistir logo. Já desisti muitas vezes, quando o local
era perto, e preferi sair andando. Mesmo no frio! Se a sorte está ao meu lado,
não demora muito para um bom samaritano parar. Aí é a vez de testar o chinês.
Já consigo ser entendida! U-huuu! Quando não consigo “fazer contato”, estico o
cartãozinho com o nome e o endereço do local desejado e assunto encerrado!
Negociação pra andar de riquixá já praticamente não
existe. Eles dizem o preço, eu mando o meu e logo nos entendemos. Eles percebem
quando somos “moradores” daqui. Ufa! Menos uma ladainha de negociação pela
frente!
A comida chinesa é ruim? Depende do que você vai
pedir. Já estou bem adaptada aos cardápios daqui e como “quase” tudo. Só evito
os apimentados, que são muitos. Por falar em comida, Beijing é uma cidade que
te oferece uma boa variedade de restaurantes internacionais. Só passa fome quem
quer!
As frutas daqui são ótimas. Agora, por exemplo, é
época dos morangos e consigo uns enormes e deliciosos. Não tem aquela coisa de
grande por cima e miudinho por baixo da caixa. Compro morango por quilo. Mais
caro do que no Brasil, mas a qualidade é bem superior. Vale a pena.
Como falei, estivemos por 10 dias nos Estados Unidos.
Lá tem regra pra tudo e as pessoas respeitam as leis, ou são multadas. Aqui as
multas também acontecem, mas os chineses não aprendem e continuam
desrespeitando quase tudo, principalmente quanto o assunto é o trânsito. Um
caos total! Retorno onde não é permitido, estacionamento em qualquer lugar,
carro passando pela calçada, motos quase te atropelando na calçada também...
Parar num cruzamento e ficar olhando é uma coisa de louco! Pior que eles acabam
se entendendo... Como? Não sei! Às vezes parece que vai dar um nó, mas vai
carro pra lá, vem carro pra cá, atravessa um monte de gente na frente, passa
uma dezena de bicicletas e o trânsito, a trancos e barrancos e lentamente, vai
fluindo. O problema é levar 30 minutos num trajeto que poderia fazer em 5!
Cusparada na rua: a coisa estava até tranquila, mas
com a chegada do frio, e consequentemente com o aumento dos resfriados e das gripes,
a situação piorou. Essa semana mesmo um senhor “puxou lá do fundo do pulmão”
algo ENORME, com um tremendo barulho – eles não se preocupam com discrição –
que preferi rapidamente mudar de posição na calçada, para não presenciar o
momento em que o adorável senhor ia expelir o que estava lhe importunando!
Écaaaaaaaa! Fazer o quê? Cada um com seu cada um! Aqui é cusparada, aí no
Brasil tem lugar em que os homens não se acanham em colocar o “bilau” pra fora,
para aquela tradicional retirada da “água do joelho”.
País diferente, povo diferente, cultura diferente... É
essa diferença que me fascina e que me leva a sair por aqui pra conhecer as
coisas. Não dá para desperdiçar essa oportunidade. Um ano já se foi, ou melhor:
acrescentei um ano de descobertas a minha vida e espero acrescentar ainda mais
a cada dia que passo aqui do outro lado do mundo.
Como diz um texto do Arnaldo Jabour que li essa semana:
“Você vai descobrir mais
cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai
embora não volta mais..."
Então,
vamos aproveitar a vida da melhor maneira possível!
Madrugada do dia 13 de janeiro de 2012 - Uma recepção calorosa na chegada à Beijing.