Já comentei aqui no blog sobre as muitas obras que vejo pelos locais que
visitamos aqui na China. Centenas de arranha-céus brotam no meio das cidades e,
muitas vezes, no meio do nada.
São centenas de obras por todas as cidades, como
essa que vi quando fomos para Tianjin, em fevereiro.
O governo chinês, de olho no crescimento do PIB, está fazendo o
contrário do que muitos países fazem: trazendo a população do campo para os
grandes centros. Veja, no link abaixo, a reportagem da Folha-Uol que saiu hoje, dia 26 de junho: em 12 anos o governo quer
transferir 250 milhões de pessoas das áreas rurais para as cidades.
Condomínios enormes estão sendo construídos
para abrigar as pessoas que vão chegar das áreas rurais.
Mas eu pergunto uma coisa? Os chineses estão calculando o impacto
ambiental de toda essa transformação? E também o impacto de novos milhares de
habitantes nas cidades e, consequentemente, mais carros, mais bicicletas, mais
gente nas ruas?
Andar em Beijing, no horário do rush
– se é que aqui existe UM horário de rush
– é um exercício de paciência. O trânsito não anda! Trajetos de um quilômetro
podem demorar meia hora para serem percorridos.
Quando cito um possível problema ambiental, falo da poluição que atinge
diariamente índices alarmantes. Se fosse levar ao pé da letra o que determina a
OMS – Organização Mundial de Saúde – não sairia de casa por um bom tempo,
porque o ar lá fora está quase sempre poluído. Acho que vou deixar parte do meu
pulmão aqui na China!
Esse ano teve dia virando noite por causa de tanta poluição.
Os chineses dizem estar tentando solucionar esse problema do ar, mas é
algo que ainda deve demorar, já que o país é muito dependente da energia gerada
pelas usinas de carvão. Mas a poluição não vem somente das indústrias, mas
também dos milhares de veículos que circulam diariamente pelas cidades. Um número
que aumenta a cada dia, já que o chinês somente há pouco tempo descobriu e
começou a ter acesso aos carros. E olha que as motos, por aqui, são somente as
elétricas – pra ter moto movida a combustível parece que é preciso uma
autorização especial. Em dois anos só devo ter visto umas cinco aqui por
Beijing.
Voltando a falar dos carros. Antes de comprar um veículo o chinês precisa
se inscrever para um sorteio de placas. Isso mesmo: sem placa não pode comprar
um carro. Parece que anualmente são distribuídas, aqui em Beijing, 240 mil
novas placas. Só que são mais de 1,4 milhões de candidatos por sorteio. Uma
loucura. A capital chinesa introduziu o esquema de sorteio de placas em 2011,
numa tentativa de diminuir o número crescente de carros nas ruas e os enormes
engarrafamentos. Em 1997, Beijing possuía um milhão de carros nas ruas, número
que pulou para alarmantes 5,2 milhões em 2012 – dados da agência de notícias Xinhua News.
Trânsito bom assim é coisa rara.
E olhe que estou falando apenas de Beijing, mas outras cidades chinesas
enfrentam os mesmos problemas com o trânsito e com poluição.
Esse aumento da população nas cidades certamente vai implicar num
aumento de veículos, por mais que o governo limite a frota. Ai, meu Deus! Mais "barbeiros" pelas ruas.
O trânsito chinês é um verdadeiro caos.
Muitas vezes os carros ficam parados, no meio da rua,
um esperando o outro dar passagem.
Reflexo do recente boom de automóveis no país.
A reportagem da Folha-Uol também
fala do problema social que implica essa mudança da população do campo para a
cidade. O camponês normalmente é uma pessoa humilde e de poucos conhecimentos.
Sua subsistência no campo é uma coisa, na cidade será outra completamente
diferente. O que vai fazer uma pessoa que passou a vida toda – para os mais
velhos – trabalhando na lavoura e dela tirando seu próprio alimento? Vai
arrumar emprego aonde na cidade? Muitos falam que ficam sem fazer nada o dia
inteiro, porque não arrumam emprego. O governo precisa olhar isso.
No Brasil, a ida de pessoas do campo para as cidades tem favorecido o
surgimento de novas favelas e o aumento da população de rua. As pessoas ficam
sem emprego, sem casa, sem comida e passam a roubar. Aqui na China acho que
eles não correm esse risco. Primeiro, porque estão recebendo moradia; segundo,
porque o governo promete um plano de ajuda de custo para aqueles que
abandonaram seus empregos no campo; e terceiro, a realidade aqui é outra. As
pessoas sabem que se passarem para o mundo da bandidagem, podem acabar presas e
até pior: alguns, quando roubam ou matam, pagam com a vida.
Se vai dar certo ou não esse êxodo do campo para a cidade, só o futuro
dirá. Tomara que os chineses estejam prevendo tudo que pode acontecer e que o
lucro com o aumento dos gastos internos da população não vire um pesadelo ou um
caminho sem volta. Afinal, o crescimento da China tem reflexos em todo o mundo.