Quando ouvimos falar da “China”, normalmente lembramos logo da "Grande Muralha”, uma construção que teve
21.196 km e que hoje em dia mede 8.850 km. ((CORREÇÃO NO PRÓXIMO POST))
A Muralha da China foi construída para proteger o Império Chinês de ataques inimigos.
A Muralha da China foi construída para proteger o Império Chinês de ataques inimigos.
Mapa da Muralha da China
Trecho da Muralha em Mutianyu.
A preocupação dos chineses com segurança era tanta que em vários outros lugares eles também resolveram construir muros menores, para cercar e proteger suas cidades.
Em minhas viagens pela China, nesses quase dois anos que estou aqui, já vi muros em Datong, Xian e, é claro, em Beijing.
Beijing – que já se chamou
Zhongdu, Dadu e Beiping – teve seus primeiros muros de proteção construídos em
1264, quando Kublai Kan decidiu
reconstruir a cidade que sofrera um incêndio em 1215, durante ataque dos Mongóis.
Ao longo dos anos, os muros sofreram modificações, diminuindo de área e
mudando de posição – mais para o norte, mais para o sul, de acordo com os
interesses dos Imperadores.
Foram construídas torres, arcos, portões e um sistema de fossos fazendo
do local o mais amplo sistema de defesa da China
Imperial.
Após o colapso da Dinastia Qing,
em 1911, as fortificações de Beijing
foram gradualmente desmanteladas, permanecendo intactas A Cidade Proibida e algumas defesas da Cidade Imperial – de uso exclusivo da Família Imperial, como o nome
já sugere.
O muro da Cidade Interna tinha um perímetro de 24 km e nove portões.
Já o muro da Cidade Externa possuía sete portões.
A Cidade Imperial tinha um perímetro de 10. 6km com quatro portões: Tiananmen, Di’anmen, Dong’anmen e Xi’anmen.
A Cidade Imperial assinalada no Google Earth.
Mapa da Antiga Cidade de Beijing.
A Cidade Proibida, que está dentro da Cidade Imperial, é cercada por um
muro que tem o perímetro de 961 metros, também com quarto portões: Wumen,
Shenwumen, Xihuamen e Donghuamen. Ao seu redor existe um fosso: mais uma forma
de proteção usada pelos chineses.
Vale lembrar que dentro da Cidade Proibida existem ainda dezenas de portões que separam seus halls ou salões.
A Cidade Proibida vista pelo Google Earth.
O Taihemen é o Portão da Suprema Harmonia.
E o Taihedian é o Salão da Suprema Harmonia.
Qianqing gong é o Palácio da Pureza Celestial.
Assinalei no Google Earth a antiga Cidade de Beijing.
Em vermelho, a área da Cidade Interna.
Em amarelo, a Cidade Imperial.
Em verde, a Cidade Proibida.
Em laranja, a área da Cidade Externa.
Não dá para culpar somente as guerras, ao longo dos anos, pela
deterioração e destruição de muros e portões da cidade. A falta de conservação
e preservação dessa parte da história, juntamente com a ascensão dos Comunistas
ao poder em 1949 – ano da fundação da República Popular da China - selaram o
destino dessas fortificações.
Entre 1951 e 1958, a Cidade Externa
foi totalmente desmantelada, tudo em nome do projeto de construção das novas
vias públicas e da implantação dos sistemas rodoviário, metroviário e
ferroviário.
A Zhengyangmen, por exemplo,
que fica na Praça da Paz Celestial, e
era usada única e exclusivamente para a passagem do Imperador, por pouco não
teve o mesmo destino das outras que foram abaixo juntamente com a maior parte
dos muros. Em 1965, Mao Tse-tung
determinou sua demolição, mas foi
demovido da ideia pelo primeiro-ministro Zhou
Enlai, que teve mais bom senso. A sugestão do primeiro presidente da RPC não é de surpreender, já que durante
a Revolução Cultural - 1966/1976 - monumentos
históricos, livros e relíquias da China Antiga foram destruídos em atos de
vandalismo dos chamados Guardas
Vermelhos, os seguidores de Mao.
Mas isso já é outra história.
À esquerda a Qianmen e à direita a Torre das Flechas.
As duas fazem parte da chamada Zhengyangmen.
As duas Torres.
Existe em Beijing um local chamado Ming
City Wall Relics Park ( 明城墙遗址公园 Míng Chéngqiáng Yízhǐ Gōngyuán), um Parque que abriga a maior e mais bem preservada
seção dos muros da cidade da época da Dinastia
Ming: um trecho de 1,5 km do muro.
O que resta do muro, assinalado no Google Earth.
Bem no cantinho direito fica a Torre de Canto.
No lugar está a Torre de Canto
construída em 1436, no primeiro ano do reinado do Imperador Zhengtong. Ela fica na seção sudeste dos muros da Cidade Interna e é, atualmente, a
maior torre de canto da China. Costumava ligar os portões de Chongwenmen (崇文门) e Dongbianmen
東便门, este já na Cidade Externa. Em 1900, foi
destruída num ataque de tropas inglesas durante a Rebelião Boxer. Somente em 1983 ela foi restaurada, tornando-se um
local de turismo.
A Torre do Canto Sudeste da Cidade Interna.
O local foi posto fiscal da cidade de Beijing até ser destituído em 1930.
Em 1960, com o início das obras do metrô, foi desmantelado,
sendo a torre de canto reconstruída pouco mais de 20 anos depois.
Antes e agora.
Pátio da Torre.
Na maquete, a Dongbianmen
e sua torre de proteção, na frente.
Interior da Torre.
Gigi em uma das janelas
usadas pelos arqueiros.
Um dos canhões do complexo.
Local onde ficava a Bandeira Azul, da Companhia Azul, que era responsável
pela segurança da área entre os portões de Chongwenmen e Dongbianmen,
A Companhia Azul fazia parte de uma unidade militar de elite
chamada de "Oito Bandeiras", da época da Dinastia Qing.
Identificados por bandeiras, eles eram
compostos por grupos étnicos como os Manchu,
o Han, e os Mongóis.
Parte preservada do muro da Cidade Interna.
Na foto da direita, lá ao fundo, parte do telhado da Qianmen.
Ao lado do muro foram construídas pistas de caminhada,
compondo o Ming City Wall Relics Park.
A Divisão da Cidade
Os muros de Beijing protegiam e dividiam duas partes distintas da cidade: a Cidade Interna – onde ficavam o Palácio Imperial e a Cidade Proibida –
e a Cidade Externa, onde vivia a
população comum.
A Cidade Interna era
protegida por nove portões e suas torres - cada portão costumava ter a sua
frente uma torre de observação e proteção.
Portões da Cidade Interior:
Zhengyangmen 正陽门– também conhecida
como Qianmen, abriga o Portão da Frente - a porta principal de
entrada para a Cidade Interior - e a Torre
das Flechas.
Zhengyangmen vista do Google Earth.
Chongwenmen 崇文门 – demolida em 1966;
Xuanwumen 宣武门 – demolida em 1965;
Dongzhimen 东直门 – demolida em 1965;
Chaoyangmen 朝阳门 – demolida em 1958;
Xizhimen 西直门 – demolida em 1969;
Fuchengmen 阜成门 – demolida em 1965;
Andingmen 安定门 – demolida em 1969.
A Cidade Interna e seus nove portões.
Portões da Cidade Externa:
Já a Cidade Externa possuía
sete portões e quatro torres de canto. Suas estruturas eram menores do que as
da Cidade Interna.
Yongdingmen 永定门
– reconstruída
em 2004, um pouco mais ao norte de sua posição original. Preciso ir até lá para conhecer.
Yongdingmen.
Zuo’anmen 左安门 – demolida em 1953;
You’anmen 右安门 – demolida em 1958;
Guangqumen 廣渠门 – demolida em 1953;
Guang’anmen 廣安门 – demolida em 1957;
Dongbianmen 東便门 – demolida em 1958;
Xibianmen 西便门 – parte de sua estrutura ainda existe. Mais um local para ser visitado.
Xibianmen.
É uma pena que as guerras, o tempo e, principalmente, a ignorância e
truculência de alguns governantes tenham destruído a maior parte do antigo
sistema de proteção da cidade de Beijing.
Mas felizmente as coisas mudam e, nas últimas décadas, o governo chinês
tem se preocupado em preservar e até mesmo reconstruir parte da história do
país. Nada mais sensato numa nação que é por apontada por muitos como a
primeira da humanidade. A desculpa de ter que realizar mudanças na geografia
dos lugares em nome do progresso é balela. Passado e presente podem conviver em
harmonia. Basta querer.
Conheça as "Oito Bandeiras"
Bāqí 八旗
正黃旗 zhèng huáng qí 鑲黃旗 xiāng huáng qí
(bandeira amarela) (bandeira amarela com borda)
正白旗 zhèng bái qí 鑲白旗 xiāng bái qí
(bandeira branca) (bandeira branca com borda)
正紅旗 zhèng hóng qí 鑲紅旗 xiāng hóng qí
(bandeira vermelha) (bandeira vermelha com borda)
正藍旗 zhèng lán qí 鑲藍旗 xiāng lán qí
(bandeira azul) (bandeira azul com borda)
Havia uma hierarquia entre as bandeiras:
Essas três eram chamadas de Bandeiras Superiores.
Ficavam sob o controle do Imperador.
As outras cinco eram as chamadas Bandeiras Inferiores.
Ficavam sob o controle dos Príncipes Imperiais.
Mais tarde todas as bandeiras passaram
para o controle direto do Imperador.
·
O sistema de bandeiras era uma
organização militar usada pelas tribos Manchus,
da Manchúria (hoje nordeste da China) para
conquistar e controlar a China no século XVII. O sistema foi desenvolvido pelo
líder Nurhachi (1559-1626), que em 1601
organizou seus guerreiros em quatro companhias de 300 homens cada. As
companhias eram identificadas por bandeiras de diferentes cores: amarelo,
vermelho, branco e azul. Em 1642 o número de bandeiras chegou a oito.
·
Com essas tropas, os Manchus derrotaram os Ming e conquistaram a China, estabelecendo
a Dinastia Qing (1644-1911/12), aquela que seria a
última da história da China
Imperial.
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