A visita a Ho Chi Minh se
transformou numa verdadeira aventura no nosso terceiro dia na cidade, em plena
véspera de Natal.
Na noite anterior entrei em contato com uma agência de passeios para
agendar a visita aos túneis de Củ Chi, os famosos túneis usados pelos vietcongs
na Guerra do Vietnam.
Passeio agendado, no dia 24 acordamos bem cedo para pegar o ônibus que
nos levaria até o distrito de Củ
Chi,
que fica a uns 70 km de Ho Chi Minh.
Nossa viagem foi ainda mais interessante porque nosso guia, Mr. Bean, era um vietnamita que lutou
na guerra ao lado dos americanos. Ele nos disse que o pai era vietnamita e a
mãe filipina e que a família foi morar nos Estados Unidos quando ele era jovem.
Ao se alistar no exército americano, voltou ao Vietnam para lutar contra o
Vietnam do Norte. Mr. Bean garantiu
que é americano, mas que seu país de coração é o Vietnam.
Ouvindo as histórias de Mr. Bean.
Quase todo o tempo, Mr. Bean se
mostrou indignado com o governo comunista – o Vietnam do Norte – e fez apologia
aos Estados Unidos. Mas suas histórias e relatos foram bem interessantes.
No caminho para os túneis de Cu
Chi paramos numa outra fábrica de laca. Os artesãos do local tinham, quase
todos, alguma deficiência física.
Parada na fábrica de laca.
Montando a peça...
...polindo...
...vendendo.
Bicicleta adaptada para deficiente físicos.
Com movimentos do volante, para frente e para trás,
a bicicleta se locomove.
Nessa parada aproveitamos para saborear um “pãozinho francês”. Hummm. Puro, sem nada, assim mesmo uma delícia. Pena que não estava quentinho e que não havia uma manteiga por perto! Mas, mesmo assim, muito melhor do que os pães borrachudos aqui de Beijing.
Matando as saudades do pão francês.
No estrada, vi um pouco de tudo. Cemitérios na frente das casas,
barracas vendendo calças de marca, plantações de arroz e florestas de
seringueiras – o Vietnam é um grande exportador de borracha - e até vendedor de
enguia, um peixe muito apreciado pelo povo de lá.
Enguias espalhadas numa lona.
Cemitérios na beira da estrada.
Barracas vendendo roupas.
Plantação de arroz.
Seringueiras.
Aproximando a imagem é possível ver os
cortes nas árvores e umas cumbuquinhas
estrategicamente colocadas para abrigar
a seiva.
A viagem até os túneis – contando com a parada na fábrica – deve ter
durado cerca de uma hora e meia. Em nosso ônibus, turistas da Europa, do
próprio Vietnam, americanos e uma brasileira que estava retornando ao Brasil
após quatro anos de estudo e trabalho na Austrália.
A área dos túneis de Cu Chi
foi reformada e é preservada pelo governo vietnamita como uma espécie de Memorial, servindo, é claro, de atração
turística.
Chegando ao complexo dos túneis de Cu Chi.
Aguardando o início da visita.
Fica numa densa floresta onde, em alguns trechos, é impossível avistar
o céu, por causa da vegetação fechada. As árvores são em sua maioria bem estreitas
– há muito bambu - o que tornava os americanos presas fáceis para os vietcongs, porque era impossível se
esconder atrás de uma árvore assim. Os americanos eram, e são, bem maiores que
os vietnamitas.
A primeira coisa que Mr. Bean
nos mostrou foi um alçapão escondido sob um tapete natural de folhas.
Impossível saber que ali embaixo havia a entrada para um túnel. Os vietcongs eram realmente espertos.
O alcapão fica embaixo dessas folhas.
Mr. Bean abriu o alçapão e avisou que quem quisesse poderia entrar no buraco. Eu e a Amanda entramos.
Olhando assim parece impossível
que alguém entre ali.
É tudo muito pequeno.
Mas arrisquei...
...e consegui entrar.
Amanda também.
Esses montes de barro abrigam os respiradouros dos túneis.
Durante o passeio pelo local, vimos ainda modelos de armadilhas usadas
pelos vietcongs e um tanque
americano destruído em plena floresta.
Tanque americano destruído na guerra.
Modelos de armadilhas usadas pelos vietcongs.
Mr. Bean mostra como as armadilhas funcionavam.
Representação de soldados vietcongs.
Representação de vietcongs
tentando desarmar uma bomba.
Algumas bombas antigas.
Uma das atrações para os visitantes é atirar com armas usadas na Guerra
do Vietnam: AK-47, M-16, carabinas, metralhadoras... Criança não pode atirar,
então a Gigi ficou de fora. Eu e a Amanda compramos o pacote de 10 balas de
AK-47 e cada uma deu cinco tiros. Eu só havia atirado na vida de espingarda de
chumbinho. Completamente diferente da experiência vivida no Vietnam. Mesmo estando apoiada no muro, a AK-47 dá um pequeno recuo quando o tiro
é disparado. O barulho, então, é enorme. Tivemos que usar protetores de ouvido,
e fiquei imaginando como era na guerra, quando os soldados não tinham proteção
nenhuma, apenas o capacete. As rajadas de metralhadora faziam um barulho ainda
maior.
Os diferentes tipos de armas
que podem ser usadas pelos visitantes.
Alvos lá no fundo.
Amanda com a AK-47...
...e eu. Certamente errei o alvo.
Centenas de cartuchos espalhados pelo chão.
Após a experiência com a AK-47 fomos para a parte mais aguardada da
visita: os túneis de Cu Chi. Mr.Bean explicou que ninguém era
obrigado a descer ao túnel, principalmente quem não se sente bem em lugares
apertados e escuros.
Eu, Amanda e Gigi tomamos coragem e fomos, seguidas pela brasileira do
grupo. Deixamos todos entrarem primeiro, pra sermos as últimas, caso “empacássemos”
lá embaixo.
O túnel tinha uma extensão de 200 metros. Descemos uma pequena escada,
ainda em pé, e depois outra que dava para uma pequena entrada. A partir daí só
dava para andar agachada. O túnel era realmente muito estreito, úmido e escuro.
Melhoramos um pouco a situação com o auxílio das lanternas dos celulares. Mas
não conseguimos seguir por muito tempo. Na primeira saída, depois de
percorrermos uns 10 metros debaixo da terra, resolvemos sair dali. A sensação
era realmente muito ruim, claustrofóbico. A turma que percorreu todo o túnel
saiu suando e exausta. Não é fácil andar ali dentro agachada.
Descendo e entrando no túnel.
Andar lá dentro, só agachada.
Amanda dentro do túnel.
Desistindo de seguir adiante.
Como os vietcongs conseguiam
ficar ali embaixo por horas, até dias, se escondendo dos inimigos, preparando
ataques surpresas? Incrível! Normalmente eles só deixavam o local à noite. O
complexo de túneis de Cu Chi tem
cerca de 200 km de extensão. No subsolo eles possuíam hospitais de campanha,
depósitos de armas e suprimentos e tinham uma vida nada fácil. Além de viver como “ratos”, os soldados
enfrentavam o calor e tinham que lidar com a presença dos bichos que infestavam
os túneis, como formigas, escorpiões, aranhas...
Os americanos sabiam da existência desses túneis, mas era quase praticamente impossível localiza-los. Os vietcongs passavam dias abrindo mais e mais túneis, mudando as entradas e saídas de lugares, surpreendendo o inimigo com esse sistema de ataque e defesa.
A geografia do lugar e as táticas de guerra dos comunistas infligiram a maior derrota americana num campo de batalha.
Parte final do túnel que entramos.
Enfermaria que ficava encoberta pelo túnel.
Cratera aberta pela bomba de um B52,
avião americano.
Bombas de vários tamanhos.
Monumento a Ho Chi Minh, na saída do complexo.
Voltamos para o hotel no meio da tarde e aproveitamos para descansar um
pouco, nos preparando para a noite de Natal.
Jantamos no restaurante do terraço de nosso hotel, aproveitando a vista
da cidade.
O rio Saigon durante o dia e à noite.
Bitexco Tower à noite.
Edifício do Comitê do Povo.
Terraço do Rex Hotel "bombando" na noite de Natal.
Elas se amam!!!!
Nossas maiores riquezas.
Eu e minhas filhotas...
...e a família na Noite de Natal.
Logo após a meia-noite descemos para nossos quartos e a Gigi foi pega de surpresa: Papai Noel havia deixado dois presentes para ela, na cama. Ela chorou de alegria! Ah, essa menina!
Que nem "pinto no lixo".
No dia seguinte fomos conhecer o mercado Bến Thành, onde se encontra um pouco de
tudo: roupas, souvenires, alimentos... O mercado original, criado na época da
colonização francesa, foi destruído por um incêndio em 1870. Somente em 1912 o
mercado passou a funcionar no atual local.
Mercado Ben Thanh.
O mercado lembra o antigo Mercado Modelo de Salvador, na Bahia.
Um outro mercado, pouco visitado pelos turistas, é o Dan Sinh. Olhando pelo lado de fora é impossível imaginar que ali dentro existe um labirinto de bancas que vendem em sua maioria recordações da guerra: isqueiros, capacetes, anéis, fivelas de cinto e quase todo o tipo de indumentária militar. É difícil diferenciar um artigo original da guerra de um novo, falsificado. Alguns isqueiros, por exemplo, têm inscrições em inglês, mas será que não é algo forjado? Mas valeu a visita.
Uma das entradas no Mercado Dan Sinh.
Diversos artigos militares.
Isqueiros antigos.
Tem até fotos antigas...
...e máquinas fotográficas.
Nossa estadia em Ho Chi Minh
terminou no dia seguinte, dia 26 de dezembro, quando viajamos para Nha Trang. Hora de pegar um solzinho no
centro-sul do Vietnam. Assunto para o próximo post.
Nenhum comentário:
Postar um comentário