Como falei no post anterior, no mês passado aproveitei a visita dos primos Fernando e Glorinha para conhecer Xian. Fomos a vários locais e agora vou detalhar um pouco mais sobre cada ponto visitado.
Os Guerreiros de Terracota
A cidade de Xian ( 西安 ), localizada na
província de Shaangxi – a 1200 km da capital Beijing - é conhecida como a
cidade dos Guerreiros de Terracota, figuras do exército chinês em tamanho
natural, modeladas em argila, e que foram feitas para proteger e guardar o
túmulo de Qin Shi Huangdi – da dinastia Qin - que em 221 a.C unificou
o país e se declarou o primeiro Imperador da China. Esses sítios arqueológicos
foram descobertos por acaso, em março de 1974, quando agricultores da região
escavavam um poço artesiano. Desde
1987 os Guerreiros de Terracota são
considerados Patrimônio Mundial Cultural
da UNESCO, e apontados como a “oitava maravilha do mundo”.
Interessante é ver como os chineses sabem ganhar dinheiro, já que o primeiro sítio foi aberto ao público apenas cinco anos depois de descoberto. Não perderam tempo. E ganham muito dinheiro ali, porque o local está sempre lotado!
O bonito ticket de entrada do museu: RMB 90 (cerca de R$30,00).
Jardim na entrada dos sítios. Ao fundo o sítio n° 1.
O complexo possui três sítios arqueológicos, com cerca de 8 mil figuras, entre soldados,
arqueiros, oficiais, carruagens e cavalos espalhados por uma área total de 20
mil metros quadrados. Acredita-se que cerca de 700 mil pessoas, entre
trabalhadores e artesãos, estiveram envolvidos na execução do projeto, que
teria levado 38 anos para ser feito.
O primeiro sítio descoberto é o maior, tem 230 metros de comprimento e
62 de largura – possui mais de 6 mil peças - e é também o mais imponente. Nele
estão os principais guerreiros do Imperador. Ainda hoje arqueólogos e
cientistas trabalham no local, em escavações que ainda devem levar anos. É um
processo de recuperação de inúmeras peças quebradas – muitas formam pilhas de
cacos - até a remontagem, um a um, de cada guerreiro. Um trabalho minucioso.
Como visitamos o local num domingo, dia de folga das equipes de restauração, não tivemos o prazer de ver de perto o trabalho dessas pessoas.
Sítio n° 1, o maior de todos e o mais impressionante.
Esse sítio n° 1 possui 11 corredores com 10 divisórias - ou trincheiras de
terra batida - pavimentadas com tijolos e cerâmicas, que separam os guerreiros em
grupos. A posição dos
guerreiros seguia uma ordem de patente e posto.
Colunas de guerreiros.
Guerreiros e cavalos.
Visitando o sítio n° 1.
A placa indica o local de descobrimento do sítio.
Há pontos que ainda não foram escavados.
Essas estátuas estão em fase de restauração.
Guerreiro e cavalos descobertos no sítio.
O trabalho de montagem é delicado e trabalhoso, porque muitas peças
são encontradas completamente danificadas.
É um trabalho que exige paciência e uma técnica bem apurada.
Assim são encontrados os guerreiros: encravados nas paredes e no chão.
Os restauradores fazem verdadeiros milagres na recuperação dessas peças.
Como conseguem remontar tudo? Um trabalho que merece toda a nossa admiração.
Outra bela imagem do sítio n° 1.
Os guerreiros foram construídos porque o Imperador Qin Shi Huangdi acreditava que ao morrer renasceria num outro mundo e que, para manter seu poder, precisava de um exército forte. Ele chegou a pensar em matar soldados de verdade, para enterrar no local, mas foi demovido da ideia por conselheiros próximos. Aqui, um detalhe: os soldados chineses da época não eram tão grandes como os guerreiros esculpidos de Terracota, mas o Imperador queria “levar para o além” um exército imponente.
O Exército de Terracota está a aproximadamente 1.500 metros a leste do mausoléu do Imperador Qin Shi. O local permanece intocável, mas já se sabe que o túmulo está localizado no interior de uma pirâmide parcialmente enterrada, que possui uma altura equivalente a 75 metros.
Mas a loucura do Imperador de criar um exército de “estátuas” não impediu a morte de parte dos operários que trabalharam nessa obra colossal. Para impedir a localização de seu império e de seu túmulo, Qin Shi determinou o assassinato daqueles que estiveram envolvidos na montagem final do projeto. A execução ficou por conta de soldados fiéis ao imperador. A localização das ossadas desses trabalhadores é conhecida, mas elas permanecem intocadas no local. Talvez uma forma de homenagem dos chineses àqueles que realmente deram à vida pelo Imperador.
Quando ficaram prontos, os guerreiros foram colocados em posição de defesa, cobertos por ripas de madeira que posteriormente foram cobertas por terra. Com a morte do Imperador Qin, em 210 a.C, os Hans chegaram ao poder e descobriram a localização dos guerreiros.
Enfurecidos por não acharem nada de valor, decidiram atear fogo ao local. Por sorte apenas uma parte dos guerreiros foi danificada. Sem registro histórico de sua localização, assim como queria o Imperador, durante centenas de anos o megaprojeto permaneceu escondido de todos, até 1974.
Mas como eram feitas as estátuas dos guerreiros? Cada parte do soldado, de argila, era montada separadamente, e depois de irem ao forno eram unidas em uma peça só, num trabalho feito à mão pelos artesãos.
Os guerreiros originais seguravam armas de madeira e bronze, como lanças, espadas, arcos e flechas que se deterioraram com o tempo e, principalmente, com o contato com o ar. Esse é um dos problemas enfrentados pelos cientistas. As estátuas eram coloridas, mas ao primeiro contato com o oxigênio elas perdem imediatamente a cor. Há fotos e também um exemplar de guerreiro mostrando como eles eram originalmente. Por causa do “estrago” causado pelo contato com o ar é que muitos dos sítios arqueológicos da China permanecem intocáveis. O mapeamento geológico já foi feito em inúmeras cidades, e muita coisa foi descoberta, mas os cientistas ainda buscam uma maneira de desenterrar esses tesouros, sem danifica-los.
Algumas das armas dos guerreiros.
Nas costas do arqueiro é possível ver ainda parte da pintura original da peça.
Painel com fotos de um guerreiro ainda um pouco colorido.
Dizem que cada estátua foi feita com a aparência de uma pessoa diferente. Também chama a atenção os variados tipos de penteados e as armaduras usadas por cada guerreiro e que ajudavam a determinar a patente de cada um.
Detalhe dos cabelos dos guerreiros.
Dizem que os guerreiros possuem fisionomias diferentes.
Um dos sete generais encontrados nos sítios. A altura, a roupa e o capacete de oficial, assim como os sapatos de ponta quadrada inclinada para cima, indicam a alta patente. Fitas com nós ornamentam a armadura.
Oficial de baixa patente. Vestimenta mais simples.
Arqueiro ajoelhado. Um dos armeiros da infantaria. Foi desenterrado do centro da formação de arqueiros, localizada na parte nordeste do sítio 2. A posição das mãos mostra que ele segurava um arco. 160 arqueiros como esse foram encontrados no sítio 2.
Algumas informações sobre o sítio n° 1:
- Há cinco entradas inclinadas nos quatro lados do sítio. Logo que a construção foi finalizada, essas entradas foram lacradas com pilares de madeira.
- Foram encontrados restos de pilares em ambos os lados das paredes. Esses pilares eram as vigas de sustentação. Cada coluna possui 30 cm de diâmetro e tem um espaço entre elas de 1.1 a 1.5 metros.
- O piso de terra batida possuía 45 cm de espessura e era todo pavimentado em tijolos.
- As paredes de terra sustentavam um telhado de madeira que era composto por enormes vigas. Esse telhado possuía uma manta de fibra que foi coberta com areia fina.
O sítio n°2 está localizado a 20 metros ao norte do sítio n°1 e tem o
formato de um “L”. Esse sítio, de 6 mil metros quadrados, só foi descoberto em
abril de 1976. Tem 124 metros de comprimento e 98 de largura, com 5 metros de
profundidade. Diferentemente do sítio n°1, possui arqueiros, carruagens, soldados
de cavalaria e infantaria que estão distribuídos separadamente, mas numa
formação que poderia ser mudada imediatamente, de acordo com a formação de batalha
dos tempos de guerra, uma característica da estratégia militar da dinastia Qin.
Sítio n° 2.
Entrada do sítio n° 2.
Como conseguem restaurar uma coisa dessa?
O trabalho de escavação ainda continua nesse sítio.
Figura de um arqueiro de infantaria, de pé, vestido com um manto de batalha sem armadura. Ele foi retirado do sítio 2. A posição de suas mãos mostra que ele estava pronto para atirar. 172 arqueiros como esse foram encontrados nesse sítio.
116 cavaleiros com seus cavalos, foram encontrados no sítio n° 2. O cavalo representado aqui é da raça Hequ, originário da Mongólia e do Tibet. Os verdadeiros cavalos como esse eram estritamente selecionados e bem treinados.
O sítio n° 3 foi descoberto em junho de 1976 e está a 25 metros ao sul do
sítio n°1 e a 120 metros a leste do sítio n° 2. Possui o formato de “U” e tem 28.8 metros de comprimento e 24,57 metros de
largura, com 5,2 a 5,4 metros de profundidade. Investigações comprovaram que
esse sítio foi muito destruído ao longo dos tempos. Somente 68 figuras, uma
carruagem e 34 armas de guerra foram desenterradas desse sítio. O sítio n° 3 é
conhecido como o centro de comando dos sítios 1 e 2.
Sítio n° 3.
Entrada do sítio n° 3.
Peças do sítio n° 3.
Existem poucas peças nesse sítio.
Na ânsia de ajudar nas escavações, muitos fazendeiros acabaram
quebrando as peças, principalmente as cabeças dos guerreiros.
Mas a visita a Xian não ficou restrita aos Guerreiros de Terracota.
Conhecemos diversos lugares dessa grande cidade que, originalmente chamada de
Chang’na – a cidade eterna - foi a primeira capital da China unificada. Por
volta do século IX, Xian era a maior e mais rica cidade do mundo, graças a Rota
da Seda, e muito antes disso, desde o século 9 a.C, foi a capital de 13
dinastias chinesas. É uma cidade com mais de 3 mil e 100 anos que tem muita
história pra contar.
QUANTA CULTURA, ANDREA. QUANTA RIQUEZA. QUE EXPERIÊNCIA ÚNICA E MÁGICA VCS ESTÃO VIVENDO... SAUDADES..
ResponderExcluirOi, minha leitora n°1 do Blog! Fico contente que você também esteja gostando das postagens. Daqui a pouco são vocês aproveitando a oportunidade de morar fora do país. Lá vocês também terão muita coisa pra visitar e contar pra gente. Quem sabe não fazemos uma visitinha? Bjs e saudades também!
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