Na terça-feira, dia 30 de abril, às nove e meia da manhã já estávamos na estação do Shinkansen para seguirmos para Hiroshima que fica a 894 quilômetros de
Tóquio. A viagem durou quatro horas e meia.
Chegamos à estação de Hiroshima
no início da tarde e, após pedirmos algumas informações, entramos num bonde em
direção ao hotel. Pegamos o bonde errado, mas o cobrador não quis aceitar o
pagamento da passagem. Igualzinho no Brasil!
Por sorte acabamos descendo bem na estação do Atomic Bomb Dome. Puxando as malas resolvemos começar nossa
visitação ali mesmo.
Foi emocionante conhecer Hiroshima (広島市,Hiroshima-shi). É triste saber
que a cidade foi toda destruída por causa de uma guerra estúpida e de uma
atitude, em minha opinião, desnecessária dos americanos. Será que não havia
outro jeito de se chegar à Paz?
Mas Hiroshima, literalmente,
ressurgiu das cinzas. É uma cidade moderna, ampla e que tem em quase todos os
lugares monumentos e estátuas simbolizando e clamando pela Paz. Está localizada
na parte oeste da ilha de Honshu.
Mais do que ninguém os habitantes dessa cidade sabem o quê significa uma
Guerra. Mito Kosei estava na barriga
da mãe, aos quatro meses de gestação, quando a primeira bomba atômica da
história foi lançada sobre Hiroshima,
em 1945.
Mito Kosei...
...como diz a placa, "sobrevivente in-utero".
A história de Mito Kosei.
A Mãe dele foi para Hiroshima três dias após o bombardeio,
aos quatro meses de gravidez, para tentar achar o pai, avô de Mito.
Mito nasceu no dia 22 de janeiro de 1946 e teve uma infância
repleta de problemas de saúde.
A mãe teve câncer, mas se recuperou e atualmente vive com ele.
O avô estava a cerca de 600 metros do hipocentro da bomba e quase foi "enterrado vivo"
sob um armazém. Por sorte foi encontrado.
Mas seu corpo sentiu os efeitos da bomba e ele acabou
falecendo menos de um mês depois, aos 52 anos.
Mito sobreviveu e hoje
em dia é guia voluntário no local. Outros bebês não tiveram a mesma sorte ao
nascer, como Mito Kosei mostra em
fotos terríveis de se ver.
Foto de bebês que nasceram com deformidades por causa da
bomba atômica.
Quando aquele homem, saudável, bem conservado e simpático começou a
conversar com a gente, não consegui conter as lágrimas. Tratei logo de colocar
meus óculos escuros, pra disfarçar. Ali me senti pequena diante de tanto
sofrimento, diante de tamanha atrocidade que foi cometida e mais uma vez fiquei
pensando por que o ser humano é tão cruel quando poderia ser apenas um ser
amável? Eu sei que os japoneses não foram “santos”, fizeram coisas horríveis,
mas havia necessidade de matar tanta gente inocente? E depois ainda mandaram
outra bomba atômica?
As meninas com Mito Kosei.
Estar ali foi de arrepiar.
Vários ângulos do A- Bomb Dome
Como o local era...
...e como ficou com o bombardeio.
Escultura representando as vítimas de Hiroshima.
Vários origamis - dobraduras de papel, na base -
e logo abaixo uma foto panorâmica de como
ficou Hiroshima com o bombardeio.
Depois do rápido bate-papo com o Sr.
Mito Kosei fomos para o hotel, que ficava ali bem perto. Foi só o tempo de
deixar as coisas nos quartos e partir novamente para as visitas.
Dessa vez entramos no Hiroshima
Peace Memorial Park, um parque onde a entrada é gratuita e onde há várias
atrações que lembram o bombardeio da cidade.
Uma placa no Parque informa que o local foi erguido em homenagem às
vítimas da bomba e para que o mundo se lembre de buscar sempre a Paz. A
construção do local começou em 1950 e terminou em 1954.
Uma das muitas placas espalhadas pelo local.
Um relógio de pedra cercado por uma pequena fonte marca o horário em que
a bomba atômica caiu em Hiroshima: às 8:15 de uma segunda-feira, no dia 06 de
agosto de 1945. Exatamente naquele ponto, a cerca de 600 metros de altura, a
bomba explodiu. Isso mesmo, ela não explodiu no solo, mas no ar. Ali é o
chamado “Ground Zero” (ponto zero).
Que essas imagens das Bombas de Hiroshima e Nagasaki
nunca mais se repitam.
Monumento que marca o hipocentro da bomba.
Ela explodiu a 600 metros acima desse ponto.
Em frente ao "Ponto Zero".
Bem embaixo desse monumento fica o Pavilhão
Nacional de Hiroshima do Memorial da Paz para as Vítimas da Bomba Atômica.
Nome grande, né? Mas é assim mesmo que está escrito, em português, num folheto
que nos foi dado no local. A entrada é gratuita.
Folheto em português. No verso ensina como fazer um origami.
O pavilhão possui no segundo subsolo uma “Sala de Recordações”, com uma coletânea de memórias e fotos das
vítimas. A Sala reproduz a cidade após o bombardeio, vista a partir do hipocentro.
O panorama é composto por 140 mil pequenas pedras retangulares, o número
estimado de pessoas que faleceram até o final do ano de 1945. Cerca de 80 mil
pessoas morreram de forma instantânea.
Sala de recordações.
Um profundo silêncio marca o local.
Ainda nesse piso existe um dispositivo de pesquisa, onde é possível
localizar os nomes de todas as vítimas. Há também um telão que passa fotos das
pessoas que morreram por causa da bomba.
Telão com fotos e informações sobre as vítimas.
No primeiro subsolo há uma grande biblioteca e uma área de exposições
temporárias. Tudo muito organizado.
O segundo ponto que visitamos foi o Cenopath,
uma escultura de forma arredondada que guarda uma grande urna onde estão os
nomes das pessoas que faleceram durante o bombardeio.
Cenopath é normalmente uma "tumba vazia" erguida
em homenagem às pessoas cujos restos mortais
se encontram em outro lugar.
O Cenopath de Hiroshima possui em uma urna
o nome das vítimas da bomba atômica.
As pessoas param ali para rezar e refletir. Colocamos algumas moedinhas no local e também fizemos nosso momento de reflexão.
Gigi colocando uma moedinha no local.
Numa placa em frente ao Cenopath está escrito: “Let all the souls here rest in peace for we shall not repeat the evil”, Que todas as almas aqui descansem em paz para que o mal não se repita. Acho que o mundo não aprendeu a lição.
Todo dia 06 de agosto, às 8:15, é realizada uma cerimônia em frente a este monumento. As pessoas presentes, inclusive parentes das pessoas que faleceram, prestam um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.
Logo atrás do Cenopath estão a Chama e o Lago da Paz e, ao fundo, é possível ver o A-Bomb Dome.
A Chama da Paz e o A-Bomb Dome ao fundo, vistos
através do Cenopath.
O Cenopath e a Chama da Paz
Um monumento no Parque, o Children’s
Peace Monument, é dedicado às crianças que morreram naquele dia fatídico ou
mesmo depois. Ele possui três esculturas que simbolizam crianças. A principal
dela, que está no topo, é em homenagem a Sadako
Sasaki. A menina tinha dois anos quando a bomba caiu em Hiroshima e aos 10 foi diagnosticada
com leucemia.
Quando estava internada no hospital, Sadaki recebeu de sua melhor amiga um origami – dobradura de papel, popular no Japão. Segundo a amiga, se
Sadako dobrasse 1000 Tsurus em forma de passarinho, ela
poderia fazer o pedido que quisesse, que seria atentida pelos deuses. Sadaki acreditou que se conseguisse
fazer os 1000 origamis poderia pedir
por sua cura. Ela conseguiu fazer 644, mas acabou não resistindo aos males que
a radiação trouxe para seu organismo e morreu aos 12 anos de idade. Seus
colegas de turma, então, completaram os 1000 origamis e os enterraram juntamente com o corpo da menina, além de
levantarem fundos para a construção do Memorial.
Children’s Peace Monument.
Um origami e um sino no interior, e três esculturas de crianças do lado de fora,
sendo que a de cima representa a menina Sadako.
Homenagem a Sadako Sasaki:
uma menina segurando um origami.
Sadako Sasaki, criança símbolo
da tragédia de Hiroshima.
Atrás do monumento estão guardados milhares
de origamis de todas as cores e tamanhos.
As pessoas até hoje ainda enviam origamis para o local.
Outra atração do Parque é o Sino
da Paz. Nele está gravado o mapa do mundo. Os visitantes são convidados a
tocá-lo, para que seu som leve a Paz aos corações de cada homem. Nós, é claro,
fizemos a nossa parte.
O Sino da Paz.
Tocando o sino, pedindo Paz.
O mapa mundi está gravado no sino,
que foi uma doação da Embaixada da Grécia.
No sino está escrito "Conheça a si mesmo", em Grego, japonês e sânscrito (indiano).
Por alguns instantes ficamos sentados bem em frente ao A-Bomb Dome, do outro lado da margem do
rio Motoyasu-gawa. O Atomic Bomb Dome era um salão de
exibições da prefeitura de Hiroshima.
Seu domo, ou cúpula, uma estrutura em ferro, resistiu ao bombardeio de forma
milagrosa, assim como algumas paredes. Algumas pessoas queriam derrubá-lo
completamente, mas prevaleceu a vontade daqueles que quiseram preservar o local
como símbolo de um acontecimento que o mundo nunca mais quer ver igual.
Aproveitando pra descansar.
Após o pequeno descanso passamos pelo Hiroshima Peace Memorial Museum. O museu mostra os fatos do
bombardeio atômico com o objetivo de contribuir para a abolição das armas
nucleares em todo o mundo. Optamos por não entrar, porque o museu já estava
quase fechando. Não perdemos muita coisa, porque a história estava bem ali
pertinho da gente, do lado de fora.
O Hiroshima Peace Memorial Museum.
Cerca de 400 mil pessoas morreram por causa da bomba atômica sendo que
pelo menos 20 mil eram da Coréia. Por causa disso, um monumento foi erguido no Memorial Park em honra às vítimas e aos
sobreviventes coreanos. O monumento simboliza uma tartaruga levando as almas
dos mortos para o céu.
Homenagem aos coreanos mortos pela bomba.
Uma pequena elevação marca o local do Atomic Bomb Memorial Mound, onde estão guardadas as cinzas de
algumas das vítimas da bomba atômica.
Nesse local estão as cinzas de algumas das vítimas da bomba.
Há ainda o Relógio da Paz,
que fica bem perto da ponte Aioi que
muitos acreditam que era o alvo da “little
boy” (garotinho), como os
americanos apelidaram a bomba despejada do B-29, o “Enola Gay”, avião bombardeiro dos Estados Unidos.
Relógio da Paz.
Apesar de estar ali por causa de uma guerra, o Parque consegue passar
uma sensação de Paz. Acho que é exatamente isso que os japoneses pretendiam, ao construir
esse local.
O Parque possui várias esculturas e monumentos.
Tudo, sempre, pedindo por Paz.
Estátuas simbolizando as pessoas orando pela Paz.
Kannon, Deusa da Misericórdia e da Paz.
Depois de visitarmos o Parque fomos dar uma voltinha pelas redondezas. E conhecemos a Hondori Street, uma das ruas de pedestres mais movimentadas do centro de Hiroshima, com um comércio muito bom. Ela é toda coberta por um teto em forma de arco - eles chamam de Arcade Street. Em Osaka conheceríamos outra igual a essa.
A Hondori Street ficava pertinho de nosso hotel e a
cerca de 500 metros do Parque da Paz.
Bonequinhas japonesas em estilo Anime/Mangá.
Voltamos ao Parque ao anoitecer, para que eu
pudesse tirar mais fotos.
Valeu a pena.
Monumento em homenagem aos estudantes que foram
mobilizados durante a guerra.
Mais de 3 milhões de estudantes em todo o Japão tiveram que
interromper seus estudos para trabalhar durante a guerra.
Jantamos nesse pequeno restaurante, à beira do rio Motoyasu-gawa,
bem ao lado do Parque da Paz.
Depois de comer massa com ostras, o guloso
ainda teve que "matar" o prato de carne das meninas - que não gostaram -
e ainda beliscou parte da pizza que elas acabaram pedindo.
Eu comi frango à parmeggiana com legumes.
Depois, só mesmo caminhando um pouco pra ajudar na digestão.
No A-Bomb Dome à noite.
No dia seguinte fizemos os check-out pouco antes das 10 da manhã e deixamos nossas malas no hotel, porque ainda faltava visitar um lugar: o Hiroshima Castle.
Caminhamos cerca de um quilômetro e meio até o Castelo. No trajeto pudemos ver como Hiroshima é uma cidade moderna e bonita.
Escultura moderna de uma pomba da Paz,
bem em frente a uma loja de departamentos.
Paz...Paz...Paz...
Canteiros cheios de flores.
Avenidas largas como a Rijo-dori, onde ficava nosso hotel.
No meio dos prédios um pequeno templo.
Escultura numa das laterais do Museu de Artes de Hiroshima.
O Castelo de Hiroshima foi erguido em 1589 por Mori
Terumoto, um senhor feudal da época, que governou nove províncias. Durante
a guerra sino-japonesa (1894-95) o castelo serviu como Quartel General do Império. Ele foi completamente destruído pela
bomba atômica e reconstruído em 1958.
Mapa da área do Castelo de Hiroshima.
A parte verde maior é o fosso que cerca o local.
O quadradinho vermelho, no fundo, à esquerda,
é onde fica o Castelo.
Área externa do Castelo, chamada
pelos japoneses de Ninomaru (cidadela exterior).
Na ponte do portão principal,
com a Torre Hirayagura à dirreita.
Outra Torre de proteção.
Algumas crianças de escola brincavam no local.
Em frente ao Torii do Hiroshima Gokoku Jinja, um santuário.
Na entrada, dois leões ou cães de guarda?
A tradição diz que dá sorte beber água nessa fonte.
O Santuário. Estava tendo uma pequena celebração lá dentro.
Modelo de lâmpada japonesa e escultura de peixe,
que os japoneses adoram.
Provavelmente são papéis com pedidos.
A entrada do pátio do Santuário, vista de dentro.
Já na área principal do Castelo, que eles chamam de Honmaru (área central).
Aqui ficava um dos prédios do Quartel Imperial que foi destruído pela bomba.
O belo Castelo de Hiroshima.
Ele também foi totalmente destruído.
Sua reconstrução foi concluída em março de 1958.
Foto de como ficou o castelo: somente destroços.
Lá dentro aproveitamos para tirar algumas fotos
com acessórios e roupas de samurai.
Fomos até o 5° e último andar do Castelo, de onde tivemos
uma bela vista da cidade.
À direita a Arena de Esportes de Hiroshima,
chamada de Green Arena (Arena Verde).
Por falar em “verde”, é surpreendente como Hiroshima é uma cidade muito
bem arborizada. Logo após a bomba atômica, chegou-se a imaginar que seriam
necessários 75 anos para que as árvores voltassem a brotar na cidade. Ledo
engano. Logo na primavera seguinte a natureza mostrou sinais de recuperação e
novas árvores começaram a nascer, trazendo uma mensagem de esperança para Hiroshima.
As árvores sobreviventes – cerca de 170, todas catalogadas - são chamadas
pelos japoneses de Hibaku Jumoku.
A natureza fez a sua parte, enquanto que
árvores de todos os cantos do mundo
foram doadas para a cidade.
Ao fundo, mais à direita, a cúpula do A-Bomb.
Gigi observando a cidade mais de perto,
pelo binóculo.
Aqui, dentro da Torre que fica na cidadela exterior.
Entramos ali quando estávamos saindo do local.
Esse tambor era usado para marcar as horas.
Amor de irmãs.
No retorno para o hotel vimos algumas
manifestações pelas ruas.
Tudo na mais perfeita ordem.
Depois de conhecermos o Castelo de Hiroshima voltamos para apanhar nossas malas, para pegarmos o trem bala para Osaka, nossa parada seguinte. Assunto para outro post.
Na estação de Hiroshima, a espera do trem bala para Osaka.
Quero
terminar esse post escrevendo um pouco mais sobre essa
passagem por Hiroshima.
Adorei
conhecer a cidade. Foi o quê mais gostei na visita ao Japão.
Hiroshima
bem poderia ter um ar triste, por tudo que viveu, mas não senti isso. Vi, sim,
uma preocupação muito grande do japonês em transmitir uma mensagem de Paz.
Talvez um arrependimento pelos erros do passado que acabaram levando ao
fatídico desfecho sobre a cidade.
A
lição que fica, pra mim, é que por mais que seja o sofrimento, é preciso seguir
em frente, buscando melhorar, sempre, e fazer do passado, bom ou ruim, um
aprendizado para um presente e um futuro melhores.
Que o que aconteceu com Hiroshima
nunca mais se repita.
PAZ!
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