Estando na China, não poderíamos deixar de conhecer o Japão. E, por nove
dias, foi possível ver como esses dois países, tão próximos, são tão
diferentes. Pelo menos, em minha opinião.
Conheci um Japão onde quase tudo é organizado e onde a preocupação com
limpeza e higiene é enorme.
Antes de qualquer refeição o japonês limpa as mãos numa toalhinha, de
papel ou pano.
Nas ruas as pessoas tem lugar certo pra andar – a direção dos carros no
Japão segue a chamada “mão inglesa”, ao contrário da brasileira.
Lá é proibido fumar andando na rua. Há locais específicos para isso, os
chamados fumódromos. Existem cabines próprias para os fumantes dentro dos trens
bala, por exemplo.
Local reservado para os fumantes no trem bala.
No Japão, quem quiser entrar numa escada ou esteira rolante e ficar
parado, deve se posicionar do lado esquerdo, deixando a direita livre para quem
estiver com pressa. Para entrar nos trens eles também fazem e respeitam as
filas. Nada do empurra-empurra dos chineses que adoram passar a frente das
pessoas.
Aguardando o trem rápido e entrando no vagão sem empurra-empurra.
Nas escadas rolantes os mais apressados passam pela direita.
Ponto negativo para os japoneses foi o fato de as bicicletas andarem
entre os pedestres nas calçadas. Diferentemente daqui de Beijing, não vi
ciclovia nem em Tóquio, nem em Hiroshima e nem em Osaka. Nos sinais havia uma
faixa para as bicicletas, somente isso. Aqui, apesar do lugar apropriado para
os ciclistas, os chineses andam por tudo quanto é lado, nas calçadas, no meio
da rua, na contramão. Vale tudo.
O japonês fala baixo. Nos transportes públicos há sempre um aviso
pedindo que os aparelhos celulares fiquem no modo silencioso, pra não
incomodar. Também não vi ninguém andando na rua ao mesmo tempo em que falava no
celular. Aqui em Beijing isso é comum. E eles falam é alto!
Comparando com a China, é tudo muito diferente. Cada país tem a sua cultura, seu modo de viver peculiar.
A China pode estar a um passo de se tornar a primeira economia do mundo
– os Estados Unidos estão em primeiro e o Japão está em terceiro – mas seu estilo
de vida não vai mudar radicalmente da noite para o dia. Se é que algum dia vai
ser diferente. Duvido muito.
Mas uma coisa que me chamou muito a atenção foi o jeito do japonês se
vestir. Ô povinho diversificado! Tudo bem que é um gosto duvidoso, mas como
dizem “gosto não se discute”.
O japonês jovem é exótico enquanto que os mais velhos são mais
comedidos. As mulheres novas usam cabelo longo, enquanto que as mais “coroas”
deixam suas madeixas acima do ombro. E em se tratando de penteado dos jovens, o
Neymar por lá seria apenas mais um no meio da multidão. Vi de tudo um pouco.
Ao lado do Museu Miraikan encontramos dezenas de jovens
como essas meninas vestidas nesse estilo Anime/Mangá
Os japoneses adoram esses desenhos!
Vi muitos jovens, em grupo, usando roupas iguais.
As meninas, então, adoram esse estilo colegial.
Cílios postiços são praticamente um acessório obrigatório entre as
mulheres, que estão sempre maquiadas. Agora percebo a diferença do chinês para
o japonês: o chinês tem os olhos mais “rasgadinhos”.
Os japoneses são mais altos do que os chineses e também têm fisionomias
diversificadas, algumas até bem ocidentais. O chinês tem a pele mais clara,
exceto os trabalhadores do campo e aqueles que vivem em contato direto com o
sol. Por aqui, pele clara é sinal de status.
No quesito simpatia, não que os japoneses não sejam simpáticos, eles
são, mas os chineses são mais “cara-de-pau”, chegam junto, pedem pra tirar
foto, ficam encarando... Se para os chineses, principalmente os do interior, um
ocidental é um verdadeiro “E.T.”, para o japonês é uma pessoa como outra
qualquer. Há quem diga que o japonês não gosta muito de ocidentais, mas não vi
nada disso. A verdade é que senti falta dos “flashes” das máquinas e dos
celulares dos chineses pedindo pra tirar fotos e mais fotos!!!!
Brincadeirinha!!!!!
Outra coisa que me chamou a atenção foi que vejo muito mais estrangeiros
na rua aqui em Beijing do que vi nas ruas das cidades que visitamos no Japão.
Não é só a China que está descobrindo o mundo, mas o mundo que está descobrindo
a China!
É verdade que o japonês come muito peixe. Também, o Japão é um país
insular, um arquipélago formado por quatro ilhas – Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku – as maiores, além de outras
6.852 ilhas menores.
As principais ilhas do arquipélago nipônico.
Aqui na China é muita verdura, frango, pato, burro e até cachorro. É
preciso olhar bem o que está comendo!
O chinês adora beber água fervendo, enquanto que o japonês adora água
com muito gelo!
Lá os chamados “palitinhos” para comer se chamam hashis e aqui na China se chamam kuaizi.
Quando falamos de religião na China, falamos de budismo, taoísmo e
confucionismo. Os japoneses mesclam o budismo e o xintoísmo.
É interessante essa diversidade entre os dois países. Nos tempos
antigos, o Japão e outros reinos asiáticos foram estados tributários da China.
Mas por volta de 894 d.C. os japoneses deixaram de pagar esses tributos e
começaram a seguir seu próprio rumo, abrindo-se ao mundo ocidental já a partir
de 1868 – na China isso só aconteceu mais de um século depois.
Ouvi várias vezes as pessoas falarem que o Japão é um país muito caro.
Não achei nada disso. É caro em relação à China, onde quase tudo é muito mais
barato. Mas em relação ao Brasil, o Japão é barato!
Um lanche no McDonal’ds, por exemplo, é mais barato no Japão do que no
Brasil. Mas não é mais barato do que na China!
A passagem de metrô mais barata custa 130 Ienes, ou R$2,64 (a passagem
varia de preço de acordo com o trajeto).
Aqui em Beijing o metrô tem o preço único de 2 RMB ou R$0,66. Não dá pra
competir com os chineses.
A região metropolitana de Tóquio possui 13 linhas de metrô,
fora as linhas do trem comum e do trem rápido.
Painel com as tarifas de acordo com as estações.
Dentro de um trem rápido.
Dentro do metrô.
O metrô também possui um vagão reservado somente
para mulheres nos dias de semana, até às 9:30.
As passagens nos trens de alta velocidade (o trem bala, chamado pelos
japoneses de Shinkansen) já não são
tão baratas assim, apesar de que se formos pensar no conforto e rapidez do
transporte, vale a pena.
O trecho Hiroshima-Osaka saiu a 10.500 Ienes (adulto) ou cerca de R$ 210,00 para um trajeto de 345,4km, numa viagem que durou uma hora e vinte minutos.
Ticket do Shinkansen Hiroshima-Osaka.
Trem bala chegando.
Outro modelo de trem bala.
Quanto ao trânsito, não achei Tóquio tão caótica como também me falaram. Aqui em Beijing sim, os engarrafamentos são enormes.
Me encantei com a variedade de transportes oferecida pelos japoneses. Só não andamos de helicóptero, porque de resto usamos trem, trem rápido, trem bala, metrô, táxi, ônibus, bonde, catamarã, teleférico, van, avião...
O trenzinho da Disney.
No trem rumo ao Disney Sea.
O vagão é todo temático.
Os retrovisores dos táxis japoneses ficam no capô.
Catamarã do passeio em Hakone.
Hiroshima possui um sistema de bondes modernos...
...mas alguns modelos ainda são antigos.
Voltamos para o aeroporto de limousine, como eles
chamam os ônibus que fazem esse tipo de transporte.
As notas e moedas de Iene.
Um real (R$1,00) equivale a cerca de 49,305円
Um dólar (Us$1,00) equivale a cerca de 99,305円
(cotação de 07 de maio de
2013).
Nos hospedamos em hotel categoria três estrelas, em quartos com cama double. Grande ou pequeno?
Muuuuiiiitttooo pequeno. O banheiro era compacto e a cama um pouco menor que a
de tamanho Queen. As malas ficaram
apertadinhas no corredor de entrada. Mas já haviam nos avisado que os quartos
no Japão eram pequenos.
Só que isso não foi problema, porque em viagem assim quarto é só mesmo
para dormir. Sendo limpinho, tá muito bom. E o café da manhã foi ótimo, com
boas opções ocidentais, o que já não acontece por aqui. O café da manhã é
sempre um problema para nós ocidentais na China! Por outro lado, os quartos de
hotéis chineses são bem maiores.
Como podem ver, existem prós e contras em qualquer lugar. É claro que
pra quem se hospeda em hotel de luxo a coisa deve ser bem diferente.
Algo que ficou bem claro é a diferença de estilo de vida entre chineses
e japoneses. Nunca vi aqui em Beijing jovens chineses reunidos num bate-papo
descontraído, seja durante o dia e, principalmente, à noite. Isso é comum no
Japão. Tóquio à noite é um burburinho só, com grupos e mais grupos de jovens
conversando ou em filas de bares ou em casas de jogos. Sabe aquelas máquinas de
pegar bichinhos e brinquedos com uma garra eletrônica? Elas estão espalhadas
por tudo quanto é lugar. Vi até máquina de pegar leque!
Lojas de jogos como essa estão por toda parte.
Tem máquina de bichinhos de pelúcia...
...e máquina de pegar leque!
Mas esse estilo de vida mais moderno do japonês parece estar causando
problemas. Durante nosso passeio ao Monte
Fuji – vou escrever em detalhes em outro post – fui escutando um guia eletrônico em espanhol e me surpreendi
com algumas informações.
De acordo com o guia, o homem japonês após o trabalho costuma sair com
os amigos, deixando a mulher em casa para cuidar dos filhos. Ele acaba
retornando tarde e não dando a devida atenção a família. Resultado: o número de
divórcios tem aumentado. Casar para a maioria das mulheres, e ainda mais depois
de ter filhos, significa abrir mão do emprego – não muito diferente de outros
países – e as jovens japonesas estão pensando duas vezes antes do casamento. Os
jovens estão casando mais tarde e demorando mais para ter filhos. A taxa de
natalidade está em queda e a população do Japão está envelhecendo.
Por outro lado, ouvi dizer que o homem japonês deixa todo o dinheiro
ganho por ele nas mãos da esposa, para que ela administre tudo. Dizem que o
japonês é muito gastão. O homem fica com uma espécie de “mesada”. Gostei dessa
parte!!!
Encerro esse post com uma informação que bem poderia ter colocado lá em
cima. Por que o Japão é chamado de Terra
do Sol Nascente? Aqui mais uma vez entra a influência chinesa: há muitos e
muitos anos, os chineses se referiam ao arquipélago japonês como a terra onde,
ao leste, o sol nasce primeiro.
Nippon ou Nihon, 日本, como os japoneses se chamam, literalmente significa “origem do sol”.
Em cima a atual bandeira do Japão.
O disco vermelho representa o Sol.
A debaixo, com 16 raios, foi usada
pela Marinha Imperial.
Atualmente ela é usada como bandeira naval
da Força Marítima de Autodefesa do Japão (JMSDF)
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