Estamos em pleno outono na China, mas Beijing já sente a aproximação do
inverno: a temperatura diária tem ficado quase sempre abaixo dos 10°, chegando
aos 2° durante a madrugada. Resultado: sair sem camadas de roupas já é
praticamente impossível, caso contrário, é frio na certa!
Com o outono, Beijing se enche de folhas amarelas e vermelhas,
principalmente entre o final do mês de outubro e a primeira quinzena de
novembro. As árvores viram atração nas ruas e tem sempre um monte de gente
apreciando a beleza da natureza e aproveitando para tirar lindas fotos. Afinal,
logo essas árvores ficarão “peladas”, sem uma única folha, somente os galhos.
Nessa época do ano os parques,
sempre muito procurados pelos chineses, se enchem ainda mais. O mais famoso
deles para se apreciar as árvores amarelas e vermelhas é o Parque das Colinas Perfumadas (Xiāngshān
Gōngyuán 香山公园), também conhecido
como Fragrant Hills.
O Parque, que possui uma área
de 1.8 km quadrados, é um antigo jardim imperial que fica aos pés das montanhas ocidentais,
no distrito de Haidian, subúrbio no
noroeste da capital Beijing. Ele começou a ser usado em 1186, durante a Dinastia Jin. De 1206 a 1911, nos
reinados das Dinastias Yuan, Ming e Qing
serviu como resort para os Imperadores que fugiam para o local no verão, para
caçar.
Em 1745, o Imperador Qianlong ordenou a construção de 28
atrações na área e o lugar recebeu o nome de Jingyi
Garden (Jardim da Tranquilidade e do
Prazer).
Esculturas com flores em frente a entrada leste.
Portal na entrada leste.
Logo na entrada leste o Qinzheng Hall, salão onde
o Imperador Qianlong discutia assuntos
do Governo quando passava "férias" no local.
Ao longo de sua história, o
Parque sofreu com o ataque de duas guerras. Em 1860 foi incendiado pelas Forças
Anglo-Francesas e em 1900 por tropas da Aliança
das Oito Nações (Áustria-Hungria, Estados Unidos, França, Império Alemão,
Itália, Japão, Rússia e Reino Unido que ajudaram a por fim a Revolução dos Boxers) perdendo muitas
de suas relíquias históricas.
O lugar foi cenário de um dos momentos mais importantes da história da
China. Em 1949, Mao Tse Tung e os
membros do Comitê Central do Partido Comunista
usaram uma construção que há dentro do parque – a Shuangqing Villa - como quartel-general da guerra, tomando dali as decisões
que acabaram por fundar a República
Popular da China. Infelizmente não conheci esse local, que fica na encosta
da montanha, na parte sul.
O Fragrant Hills foi aberto oficialmente como Parque em 1956.
Grupo de turistas na praça em
frente ao portão leste.
Entrada Norte.
Se o lado histórico já vale
uma visita, junte a isso a beleza da natureza local nessa época do outono, que
é de encher os olhos e a alma. As centenas de árvores de Gingko e Bordo, os
pinheiros, os pés de caqui e toda a vegetação ao redor tornam o Parque das Colinas Perfumadas um
passeio obrigatório para os turistas.
O local é tão interessante que
fui visita-lo duas vezes em três dias! Na primeira o tempo estava ruim, muito
fechado e não consegui ver a cidade e as montanhas ao redor, por causa da forte
névoa. Na segunda vez, o dia estava perfeito, com um lindo sol e céu azul.
Num dia o tempo completamente fechado...
... No outro uma visibilidade perfeita.
Só que o forte vento chegou a fechar,
por algumas horas, o teleférico que leva ao topo do Xianglu Feng (Pico do
Queimador de Incenso), que fica a 575 metros acima do nível do mar e é a
montanha mais alta do local.
Céu limpo, mas muito vento.
Resultado: teleférico fechado.
Mas quando estávamos para deixar o parque notamos
que o teleférico tinha voltado a funcionar e lá fomos nós para o alto da colina. Dessa
vez a vista foi perfeita: lá de cima vimos a grande Beijing ao fundo, o lago do
Palácio de Verão, a Torre de Beijing, parte do Parque Olímpico e até mesmo a
torre do China World, bem aqui perto de casa. Isso numa distância de mais de 30km.
A Torre de Beijing.
O China World - ao centro - o maior
prédio de Beijing e que fica
bem pertinho de nossa casa.
O Lago Kunming, no Palácio de Verão.
Pátio do Chongyang Pavilion, no alto do pico.
Mais um pavilhão no alto do pico. Esse se chama Tayun.
As árvores cheias de plaquinhas de madeira.
Mulher colocando uma plaquinha no arbusto.
Cledna, Cinara e eu na parte mais alta do Pico Xianglu.
Ao contrário de outros
teleféricos que já conhecemos aqui em Beijing, esse do Fragrant Hills é bem novinho. Mas para quem tem medo de altura é
uma atração dispensável, já que a cadeirinha para duas pessoas é aberta. Um
detalhe que parece piada, é que a barra de segurança NÃO tem nenhuma trava de
segurança. Achei perigoso, ainda mais que o trajeto é longo e às vezes está
sujeito ao vento. Mas até que a cadeirinha não balançou em nenhum momento – a
cabine do teleférico da Muralha, em Badaling, apesar de fechada, balança
muito mais.
Uma das torres do teleférico
Algumas pessoas preferem subir e descer à pé.
É uma boa subida.
Eu e Gigi no teleférico.
Liuli Wanshiu Pagoda. Faz parte do Templo Zhao.
Possui 30 metros de altura. Em seus sete andares,
com beirais de oito lados, encontram-se 56 sinos.
Só vi de longe, do teleférico.
Templo Zhao. Foi construído em 1780
para a cerimônia de boas-vindas
ao então líder Budista Tibetano.
Era a construção principal do Jingyi Garden.
Ainda bem que o sol forte
ajudou a amenizar o frio, já que no primeiro dia eu quase congelei na descida
do teleférico.
Assim como nós, centenas de
chineses e alguns pouquíssimos estrangeiros estavam visitando o parque. Na
sexta-feira havia menos gente, mas no domingo, com aquele tempo de céu aberto,
estava lotado!
Só o que destoou do passeio foi
ver os chineses puxando ou sacudindo os galhos das árvores para pegar algumas
folhas de lembrança. O que não era absolutamente necessário, porque havia
milhares de folhas caídas. Vi chinês trepado num pé de caqui, sacudindo a
árvore, enquanto outros corriam para pegar os frutos que caíam no chão.
Chineses "brigando" por uma folha de bordo...
...Sem necessidade, porque elas ficam
espalhadas pelo chão.
Pegamos algumas, de tonalidades diferentes.
Quem quiser pode até comprar
as folhas em cartões plastificados.
Lugar lindo!
Fica até difícil saber pra que lado
apontar a máquina fotográfica.
A árvore de Bordo com as folhas
em tonalidades diferentes.
Elas começam amarelinhas, ficam vermelhas e morrem.
As meninas.
Cinara e as filhas.
Gigi na árvore...
...e Amanda também.
O amarelo predomina no parque.
Na montanha a tonalidade é mais
puxada para o vermelho.
Lago Yanjing. Ele é cortado por uma ponte de pedra
e tem a aparência de um par de óculos, daí seu
apelido: Lago dos Óculos.
Ao fundo o Pavilhão Jiari.
O lago visto lá do alto do teleférico.
Pequena gruta em um dos lados do lago.
Na beira do lago Yanjing.
O Pavilhão Jiari visto da ponte.
Como sempre, leões nas balaustradas.
Chineses se divertindo perto do lago,
fantasiados de Imperador e Guerreiro.
O templo budista Biyun Temple (Bìyún Sì, 碧云寺), Templo das Nuvens Azuis, localizado na
parte oriental do parque, com seus 40 mil metros quadrados, é uma das
principais atrações do local. Originalmente construído em 1331 como um convento
de freiras, ele é composto por seis jardins que abrigam salões com imagens de Budas e uma enorme Pagoda.
Como sempre, logo no início do Templo, as duas
figuras dos guardiões.
Pátio em frente ao Salão do Buda Maitreya.
Buda Maitreya.
Imagem de bronze com 2.5 metros de altura,
construída durante a Dinastia Ming.
Pátio do Salão Mahavira.
Acendedor de incensos em frente ao
Salão Mahavira.
Buda Sakyamuni é a figura principal.
Com a Cristiane.
Outro hall do Templo Biyun é o dos Arhats, com 508 imagens douradas feitas em madeira, cada uma com cerca de 1.5 metros de altura.
Os Arhats são motivo de controvérsia entre as escolas budistas. Para alguns eles eram considerados pessoas especiais, com poderes miraculosos. Mas há aqueles que os consideravam pessoas imperfeitas e ignorantes. Uma das traduções de Arhat significa “imortal”.
Salão dos Arhats.
Parte da área do Templo vista do teleférico.
A Vajrasana Pagoda, também conhecida como Pagoda dos Guerreiros Protetores de Buda, tem 34.7 metros de
altura, e só foi construída em 1748. É a última atração do Templo. Feita de mármore branco, possui cinco torres
principais ao centro e algumas menores ao seu redor. Em suas paredes estão imagens
de Buda e esculturas de dragões,
fênix, nuvens, leões e elefantes.
A área do Templo vista do alto do teleférico.
A Pagoda no meio da floresta.
Portal de entrada para a Vajrasana Pagoda.
A Pagoda ao fundo.
O acesso a Pagoda está fechado.
Pavilhões que guardam estelas de pedra
com as ordens dadas pelo Imperador
Qianlong e que marcaram
o início da construção da Pagoda, em 1748.
Caminhamos ao redor de toda a Pagoda, por baixo, no meio da floresta.
Árvores centenárias e algumas
até milenares foram escoradas
para não cair.
Venta muito no local e as árvores
acabam inclinando.
Imagens de Weng Zhong...
...considerado um guardião de tumbas.
Detalhe do telhado em meio ao Gingko.
Árvores milenares com cintas de ferro para não abrirem.
Mais árvores de Gingko.
Passagem num dos pátios laterais do Templo.
Fazendo graça.
Na ponta do telhado, um sino.
Fitas com pedidos presas na ponte de pedra.
A Pagoda abriga em seu interior as roupas e o chapéu usados por Sun Yat-sen, um dos maiores estadistas
chineses e presidente provisório da República
da China, fundada em 1° de Janeiro de 1912, com a derrubada da Dinastia Qing. Não confundir com a RPC, República Popular da China, que já
citei mais lá em cima, e que foi fundada em 1° de Outubro de 1949 por Mao Tse Tung.
Sun
Yat-sen, que é considerado por muitos como o “Pai da República”, faleceu aos 58 anos, em 1925. Durante quatro
anos o caixão com seu corpo foi guardado no Templo das Nuvens Azuis, até que em 1929 seus restos mortais foram
enterrados em Nanjing, no Mausoléu Sun Yat-sen. Parte da história
de Sun Yat-sen é contada em fotos e
artigos pessoais expostos nos salões que ficam na parte central do Templo.
Memorial Hall de Sun Yat-sen.
Aviso: era proibido fotografar lá dentro e eu
tirei a foto lá de fora, sem flash,
para não prejudicar a estátua.
Somando os dois dias, passei
cerca de 8 horas dentro do parque. Parece muito, mas não é. Pelo menos não foi
o suficiente para conhecer todas as atrações, já que não visitei as que se
espalham pela montanha. São locais que exigem uma longa caminhada. Já andamos à
beça, imagina se fôssemos subir a montanha?
Naquela região só falta eu
conhecer o antigo Palácio de Verão e o Jardim Botânico (os pontos principais). Vou
tentar aproveitar o clima e a beleza do outono para visitar esses lugares, enriquecer
os conhecimentos e me encantar e me surpreender ainda mais com Beijing, uma
capital que mistura passado e presente, natureza e modernidade em atrações que
parecem não ter fim.
Curiosidades:
- Só pra constar: achei que o Parque teria um aroma diferente no ar, por causa do nome, Parque das Colinas Perfumadas, mas não “sentimos” nada que chamasse a nossa atenção.
- Em 2008, um dos temas da cerimônia de encerramento dos Jogos Paraolímpicos de Beijing foi “Red Leaves of Fragrant Hills” – As Folhas Vermelhas de Fragrant Hills. Milhares de folhas de bordo foram despejadas do alto do Ninho de Pássaro, numa imagem que encantou não somente os espectadores presentes, mas também as pessoas espalhadas por todo o mundo que assistiam ao espetáculo.
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