O Mandarim é a língua oficial chinesa. Só que por conta da diversidade
cultural existente no país – consequência de seu amplo território, a China é o segundo
maior país do mundo – a Língua Chinesa possui uma variedade de dialetos, sendo grande
a diferença entre eles.
Um chinês de Beijing – que
fica no norte - por exemplo, pode não entender o que um chinês de Sanya – no sul - fala, somente por
causa do “sotaque”. Ou um chinês de Beijing
pode não conseguir se comunicar com um chinês de Hong Kong por conta das variações da língua. O mesmo acontece com o pessoal de Beijing e Shanghai.
Os principais dialetos do chinês são:
·
O Mandarim, considerado o idioma
oficial da região de Beijing é, teoricamente, falado em toda a China, incluindo Taiwan;
·
O Cantonês é falado em Hong Kong, Macau e Cantão (Guangzhou);
·
O Sichuanês é falado no centro
da China (região
de Sichuan e Chongqing);
·
O Hakka é falado na
porção mais ocidental da China.
Quando soube que ia morar dois anos e oito meses na China, uma das
primeiras coisas que me veio a cabeça foi: como vou entender o que está escrito
nas ruas, nas placas, jornais? Como vou entender o que estarão falando comigo?
O Mandarim é tão difícil! E aquele monte de caracteres?
Bem, já estou há um ano e dez meses por aqui, as dificuldades com a
língua chinesa existem, mas com o pouco que aprendi consigo me virar e “me
entender” com os chineses. No Brasil fiz um cursinho, mas que valeu de muito
pouco, somente para ter uma pequena noção da língua, porque a realidade é
completamente diferente. Não quis me matricular em nenhum curso por aqui,
porque acho que já “estou velha” e não vou usar a língua chinesa no futuro. Vi
como um desperdício de dinheiro. O futuro pertence às minhas filhas: essas sim,
fiz questão que aprendessem a língua do futuro - ou já seria a do presente,
diante de todo o avanço da China no mundo moderno?
Não entrei em curso, mas fui me virando sozinha, aprendendo com
programas como o Rosetta Stone,
tirando dúvidas com minhas filhas e meu marido... Hoje em dia me viro bem na
rua na hora das negociações ou em casa com a empregada. E, pra não ficar na
mão, sempre que preciso uso o tradutor do celular, que é uma mão da roda.
O Mandarim é difícil? Sim e não.
A China utiliza os caracteres,
no qual cada símbolo representa uma ideia ou conceito pronto. É como se cada “letra”
representasse uma palavra inteira. A escrita chinesa é
caracterizada pela ausência de um alfabeto. Existem milhares de caracteres que podem ter diferentes
significados, dependendo do contexto. É uma língua baseada em tons, o que pra nós
ocidentais é uma loucura. Um tonzinho errado e a palavra e o significado são
outros.
Uma palavra pode ser pronunciada com até cinco entonações diferentes, o
que altera seu sentido. Veja o exemplo da palavra “ma”:
mā (mãe) 妈
má (erva),
麻
mǎ
(cavalo), 马
mà
(xingar), 骂
ma
(partícula interrogativa), 吗
Como transformar um nome “ocidental” para o chinês? Vamos pelo som. Veja
o exemplo do meu nome:
Andrea = Ān dé lái yǎ ou 安德莱雅.
Interessante,
não é mesmo?
Escrever os caracteres é uma arte. Pelo menos pra mim. Mas tudo é bem
diferente com a garotada: vejo minhas filhas escrevendo e fico toda orgulhosa.
A Amanda, por exemplo, já aprendeu mais de 2.500 palavras – apesar de ser
difícil guardar todas. E a Giovanna “desenha” os traços com a maior facilidade.
Se escrever os caracteres é difícil, construir as frases em chinês, nem
tanto. A gramática da
língua chinesa é relativamente mais fácil que a de outras línguas. O chinês não
tem trocas de gênero nem de número. Os verbos mantêm-se imutáveis em todos os
casos e em todos os tempos gramaticais. Por exemplo, o verbo “ser” 是 (shì) não se conjuga, seja quem for o sujeito ou o
tempo:
Eu sou brasileiro.
Wǒ shì bāxī rén
我是巴西人
Ela é
brasileira.
Tā shì bāxī rén
她是巴西人
Ele é
brasileiro
Tā shì bāxī rén.
他是巴西人
Outro exemplo:
Eu vou ao supermercado.
Wǒ qù
chāoshì.
我去超市
Ela vai ao supermercado.
Tā qù
chāoshì
她去超市
Ele vai
ao supermercado.
Tā qù
chāoshì
他去超市
Nós vamos ao supermercado.
Wǒmen qù
chāoshì.
我们去超市
Eles vão ao mercado.
Tāmen qù
chāoshì.
他们去超市
Repare que a única coisa que mudou nas frases foram os caracteres correspondentes
aos pronomes (em negrito). O verbo (em vermelho) permaneceu igual.
Só o fato de não ter que flexionar os verbos é ótimo! Imagino o chinês
aprendendo português. Deve ficar maluquinho com tanta regrinha.
Não sou nenhuma “expert” em chinês, mas posso afirmar que no dia a dia a
gente vai absorvendo muitas palavras e até mesmo “decorando” alguns caracteres.
Mas quantos caracteres existem no idioma chinês? São cerca de 80.000 caracteres
– o caractere chinês é chamado de
Hànzì (汉字) - que representam
palavras ou fonemas, sendo que atualmente são usados em torno de 7.000.
Estima-se que para ler um jornal é preciso conhecer ao menos 2.500.
Uma pessoa culta consegue identificar entre 3.500 e 5.000 caracteres. O chinês
utiliza 4000 caracteres para a alfabetização.
Nas décadas de 50 e
60, o governo chinês promoveu a simplificação de muitos caracteres, através de
uma diminuição do número de traços e a China passou a adotar os caracteres
simplificados.
Exemplo com a palavra "país" = g uójiā
Chinês Tradicional 國家
Chinês Simplificado 国家
Eu imaginava que
era só sair “rabiscando” os caracteres da forma que eu bem entendesse. Mas não
é nada disso. Cada caractere é composto por um determinado número de traços.
Estes devem ser escritos numa direção definida e também numa
determinada ordem. Não é muito diferente
de como aprendemos a escrever no Brasil.
Caractere “hǎo”
(bom)
Ordem dos traços
Sempre de cima para baixo, da esquerda para a direita.
Escrevendo nosso alfabeto
Quando começamos a escrever também
aprendemos a "desenhar" as letras seguindo uma direção.
Existem caracteres que fico olhando e me parece impossível decifrar em
qual sequência foram escritos.
Para os leigos são tracinhos complexos, mas para os chineses algo tão
fácil como é pra gente escrever a letra “A”.
No próximo post tento explicar
um pouco como se usa o teclado de um computador para se escrever o Mandarim.
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